Como sabemos, as mídias sociais trouxeram possibilidades e desafios muito relevantes para a pesquisa empírica em comunicação e demais ciências sociais aplicadas. Em alguns ambientes fala-se muito de termos e jargões de mercado como social big data mas, apesar da grande abundância de dados produzida a cada segundo, existem restrições crescentes à viabilidade destes dados. Além disto, novos temas como algoritmos e impactos na democracia digital são mais prementes. Levando isto em conta, indicamos aqui dez livros recentes sobre métodos digitais que podem impulsionar a bibliografia do pesquisador interessado nestas trajetórias nos últimos 10 anos.
Lançado em 2011, o livro Métodos de Pesquisa para Internet das pesquisadoras brasileiras Suely Fragoso (UFRGS), Raquel Recuero (UCPel) e Adriana Amaral (Unisinos) reúne perspectivas sobre pesquisa empírica à apropriações metodológicas apropriadas ao estudo da internet. Além de uma revisão sobre estudos de internet, um capítulo trata de construções de amostras e outro trata da Teoria Fundamentada na primeira parte do livro. Esta abordagem é especialmente frutífera no monitoramento de mídias sociais, uma vez que as categorias de análise são geradas a partir da exploração dos dados coletados, e não aprioristicamente. A segunda parte traz capítulos sobre Estudos de Redes Sociais, Análises de Hiperlinks e Abordagens Etnográficas, relevantes para uma gama de diferentes fins de pesquisa na internet e mídias sociais.
Para um exemplo de análise de blog baseada em Teoria Fundamentada, vale ler o artigo “Fandoms transculturais: apropriações nas práticas de shipping dos fãs brasileiros de K-POP no Facebook” escrito por Adriana Amaral e Larissa Tassinari.
Para um primeiro panorama no trabalho recente do Richard Rogers, vale conferir o artigo “Otherwise Engaged: Social Media from Vanity Metrics to Critical Analytics”
Além de vários textos explorando aspectos metodológicos e éticos do estudo que o Facebook fez sobre manipulação de emoções, destacaria especialmente os trabalhos escritos por pesquisadores acadêmicos que também são gerentes de produto de ferramentas. Para ler mais sobre o livro, incluindo citações, pode conferir uma resenha publicada no meu blog pessoal.
Os diferentes autores, originados de diferentes disciplinas, trazem olhares bastante variados sobre problemas relevantes para a pesquisa em ambientes online. Merece destaque pela originalidade o trabalho de Michael Batty et al do UCL Centre for Advanced Spatial Analysis. Os autores exploraram modos de entender o espaço urbano através das flutuações dos dados geolocalizados nas mídias sociais.
A versão working paper do capítulo está disponível online: Visualising Spatial and Social Media.
Robert Ackland é líder do VOSON – Virtual Observatory for the Study of Online Networks, da Australian National University. O software permite mapear redes de hyperlinks na web, possui integração com o NodeXL e foi utilizada em alguns estudos de caso inclusos na publicação.
O artigo “Mapping the U.S. Political Blogosphere: Are Conservative Bloggers More Prominent?” é um bom ponto de partida, para lembrar que a pesquisa social através de métodos digitais já era bastante frutífera em 2005 debruçada sobre a blogosfera.
Em Digital Methods for Social Science: An interdisciplinary guide to research innovation, o time de organizadores Helene Snee, Christine Hine, Yvette Morey, Steven Roberts e Hayley Watson reúnem 14 capítulos em quatro focos: big data x dados densos; combinando e comparando métodos; desenvolvendo inovações; e desafios e disputas.
Recomendo sobretudo a segunda parte, que inclui os capítulos “Mixing Modes to Widen Research Participation”, “Do We Need Polls? Why Twitter Will Not Replace Opinion Surveys, but Can Complement Them” e “Video Analysis in Digital Literacy Studies: Exploring Innovative Methods”.
Para uma primeira leitura sobre uso de métodos digitais nas ciências sociais, especificamente sobre (in)satisfação com o corpo e imagens digitais, recomendamos o artigo aberto “A content analysis of thinspiration, fitspiration, and bonespiration imagery on social media”, co-autorado por Yvette Morey, uma das organizadoras.
Organizado por Bruno Campanella (UFF) e Carla Barros (UFF), Etnografia e Consumo Midiático: novas tendências e desafios metodológicos agrega nove capítulos em torno da etnografia e seus desafios em/com/para ambientes digitais ou sociedade digitalizada.
São autoras brasileiras e estrangeiras, como Christine Hine, Anette Markham, Beatriz Polivanov e Raquel Recuero tratando de temas como “Etnografia e Digitalização”, “Remix(ando) métodos qualitativos para os contextos das mídias digitais” e “Estratégias para etnografia da internet em estudos de mídia”.
Acesse o livro no perfil do Campanella no Academia.Edu e artigo da Carla Barros sobre “Materialismo digital”, consumo e contemplação na rede social Pinterest”
Não poderia deixar de fazer parte da lista o nosso livro Monitoramento e Pesquisa em Mídias Sociais: metodologias, aplicações e inovações, organizado por Tarcízio Silva e Max Stabile. Ao longo de 17 capítulos, a publicação trata de temas basilares mas ainda controvertidos como análise de sentimento, atendimento ao consumidor ou etnografia, que somam-se a aplicações e inovações que vão de reconhecimento de imagem a estudos sobre memes, compondo contribuição sólida ao campo.
Para todos aqueles que querem iniciar suas pesquisas utilizando dados de mídias sociais, este livro será um excelente guia no desenvolvimento de seus trabalhos. Para aqueles que já atuam ou querem atuar no mercado de mídias sociais, o livro traz referências a métodos e inovações que podem ser uma ampla fonte de novos produtos e pesquisas.
O livro está aberto também em formatos PDF e Mobi gratuitos, mas entre as produções científicas do IBPAD resultantes das redes construídas no livro podemos citar “Fãs, Consumo Cultural e Segunda Tela: proposições metodológicas acerca das audiências no Twitter”.
Digital Sociologies, organizado por Kessie Daniels, Karen Gregory e Tressie Mcmillan Cottom , não usa o plural no título por acaso. Na primeira parte, em 7 capítulos, trata da sociologia digital na vida cotidiana, falando de temas como estudos de comunidades online, análise de discurso digital em pequenos espaços ou gerenciamento de impressões digitais na “economia do compartilhamento. A segunda parte foca em instituições e traz 11 capítulos em torno de desigualdade e instituições, papel dos algoritmos em decisões educacionais, raça e racismo na educação e convergência de audiências online em torno de produtos culturais, como Scandal. A terceira parte traz mais 10 capítulos e é repleta de estudos de caso sobre corpos e corporeidade nas interseções com raça, gênero, classe e sexualidades.
Para conhecer um pouco sobre o trabalho dos organizadores, uma dica especialmente útil para quem trabalha em/com ONGs: “Mitigating Concerns and Maximizing Returns: Social Media Strategies for Injury Prevention Non-profits” de Tresse McMillan-Cotton.
Já falamos aqui no blog sobre o livro The SAGE Handbook of Social Media Research Methods, publicado em 2017. Organizado por Luke Sloan e Anabel Quan-Haase, a publicação reúne 39 capítulos de pesquisadores de todo o mundo, divididos em sete partes principais: Conceituando e Planejando Pesquisa em Mídias Sociais; Coleta e Armazenamento; Abordagens Qualitativos para Dados em Mídias Sociais; Abordagens Quantitativas para Dados em Mídias Sociais; Abordagens Diversas para Dados em Mídias Sociais; Ferramentas de Pesquisa e Análise; Plataformas de Mídias Sociais.
Já apresentamos resumos aqui no blog de três de seus capítulos, com os temas: Thickening no monitoramento e etnografia em mídias sociais; Detecção de bots, notícias, rumores e perfis fakes nas mídias sociais; e Quatro abordagens para análise e pesquisa no Instagram.
Para um artigo aberto co-autorado por Anabel Quan-Haase, acesse “Digital inequalities and why they matter”.