primeiroassedioNa noite do dia 21 de outubro tomou corpo online a mobilização #PrimeiroAssédio. Motivadas pelo assédio online sofrido por uma participante adolescente do programa Masterchef Junior, o grupo Think Olga lançou uma campanha de compartilhamento de histórias dos “primeiros assédios” sofridos por mulheres e homens no país. O objetivo foi gerar consciência para a questão, relacionada a violência e desigualdade de gênero no país.

Realizando o monitoramento da temática desde seu início, queremos demonstrar de forma rápida aqui como a análise de redes pode trazer informações e insights rápidos sobre a estrutura de uma mobilização online.

A imagem abaixo representa a estrutura da rede de conversação da hashtag #primeiroassédio entre a noite do dia 21 e tarde do dia 23. Cada pequeno ponto representa um perfil e cada linha uma conexão, mapeada através dos tweets monitorados: ao todo 22 mil usuário e 43 mil conexões. A métrica de centralidade grau de entrada permite enfatizar os perfis que alcançaram maior impacto na disseminação da hashtag: os círculos e legendas maiores representam os perfis que mais tiveram suas publicações comopartilhadas:

PrimeiroAssedio Rede 10 23 15h40

A disposição dos nós utiliza a técnica chamada force-directed: os algoritmos buscam posicionar cada perfil da forma mais representativa de suas interações. A área em verde à direita da imagem, por exemplo, representam perfis pouco conectados ao resto da rede. Como detalharemos abaixo, trata-se de um núcleo de perfis buscando “trollar” a campanha, com mensagens agressivas ou ofensivas.

Mapeando a interconexão entre os perfis, o cálculo de modularidade é utilizada para encontrar grupos mais conectados entre si do que em relação à rede como um todo, ou seja, criar os clusters ou segmentos mais próximos.

O maior cluster a partir dos parâmetros utilizados reuniu 45,4% dos perfis participantes. É nele que está o perfil da @ThinkOlga, que iniciou a campanha. É interessante observar a força da rede na ampliação do impacto de uma causa: apesar de ter iniciado a mobilização, o perfil da Think Olga não obteve o maior grau de entrada, porque perfis com diferentes públicos apoiaram a causa. O perfil @PinkieSatan, por exemplo, obteve o maior único impacto na rede durante o período, superando 1,4 mil retweets. O perfil não explicita a identidade real da usuária ou usuário publicador, mas apresenta um público diferente dos perfis engajados iniciais. Para os fins da campanha é um fato ótimo, pois amplia a consciência do problema.

Primeiro Assedio - Cluster 1

Com 27,4% dos perfis, o segundo cluster trouxe como perfis de maior impacto na construção da rede: @losthours, @Maiielica e @carolinezei. Vale notar que os perfis, respectivamente, possuem 854, 277 e 189 seguidores, mas obtiveram o grau de entrada de 537, 534 e 511. Antes de ser uma contradição entre audiência e impacto, a diferença dos números é um traço característico de mobilização do tipo. Uma vez que uma mobilização em #hashtag torna-se um fato comunicacional, milhares de usuários passam a acompanhar a hashtag através da busca, tendo acesso a conteúdo de perfis que não seguem.
Primeiro Assedio - Cluster 2

A jornalista @LauraBuu apresentou o maior grau de entrada no terceiro cluster, que representou 11,1% da totalidade dos perfis. Idealizadora do projeto Pink Vader, que apresenta um olhar feminino sobre a “cultura nerd”, possui público de seguidores especialmente aderente à temática.

Primeiro Assedio - Cluster 3

Por fim, o quarto cluster, com 7,45% dos perfis, trouxe como influenciadores o cantor Roger (@roxmo) e o perfil fake @joaquintdasilva. Os dois primeiros publicaram mensagens ofensivas com o objetivo de disruptar a campanha, sendo compartilhados também por centenas de seus seguidores.  A distância visual representa a dissociação do resto da rede, que não interagiu, seja positiva ou negativamente, diretamente com os perfis desta área.

Primeiro Assedio - Cluster 4

Coleta, Processamento e Análise de Dados: Tarcízio Silva, Max Stabile, Débora Zanini

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