Muita gente pensa que os estudos sobre redes começaram com a popularização da Internet, mas, estudiosos como Milgram, no final da década de 60, seguidos por Granoveter (1978), Barabasi e Albert (1991) e Watts e Strogatz (1998) buscaram, em suas produções, compreender o funcionamento das relações humanas em tais redes, recorrendo a grafos para representá-las. Nascem daí as teorias dos seis graus de separação e mundo pequeno (Small World).
Analisando de perto tais grafos, tornou-se mais simples desvendar os níveis das interações e a força dos chamados laços sociais, que podem ser fortes ou fracos, na perspectiva de Granoveter (1978), Paul Adams (2012) e Recuero (2015). Graças às contribuições desses autores, hoje é possível identificar que as redes sociais são formadas por laços fortes e fracos, buracos estruturais e que representam mundos pequenos. Agregando a esses conceitos técnicas e ferramentas de visualização da informação em grafos, como propõe Manuel Lima (2011), seria possível entender relações sociais, questões políticas e co-ocorrência de palavras, gerando redes complexas.
Mas, nem sempre a mera análise de um grafo é capaz de “dizer tudo” sobre as complexas relações sociais que ocorrem em rede. É nesse momento que uma ideia interessante proposta por Fábio Malini pode auxiliar os estudos de grafos e análise de redes! Malini que considera que por mais que a teoria dos grafos indique clusterização e densidade das redes, nem sempre os atores que ocupam papéis centrais são os mais importantes, já que o próprio grau de influência do perfil precisa ser ponderado, para que não se corra o risco de redução do estudo das redes sociais à mera perspectiva espacial e topológica.
Ele criou o método perspectivista, que cruza análise de redes sociais e de conteúdo, teoria dos grafos e estudos sobre influência social, indo além da visão topológica das redes sociais. Vamos conhecer um pouco mais sobre como o método perspectivista se opõe à visão topológica das rede.

Visão topológica das redes

Sabemos que nos estudos de redes sociais, as conexões são o principal foco, pois quaisquer alterações nelas, são capazes de modificar a dinâmica e estrutura das relações. De acordo com Raquel Recuero, as conexões são formadas a partir de laços sociais, que, por sua vez, se constituem a partir da interação entre atores, sendo sua matéria prima o processo comunicacional. Aprofundando mais essa visão, para Manuel Lima (2013), redes são sistemas complexos definidos por um grande número de elementos interconectados, que possuem uma topologia e que podem refletir relações sociais baseadas em autonomia, flexibilidade, colaboração, diversidade ou multiplicidade. O uso da visualização dos dados em grafos possibilita um entendimento mais profundo da colaboração social, circulação da informação e produção de conhecimento.
Lima também considera que esse pensar em rede, ou network thinking traz a compreensão da estrutura da blogosfera e da Internet como um todo, em que os pontos ou atores são os sites ou blogs. No caso da construção de um grafo para representar citações, a maior esfera é considerada mais relevante, pois recebeu mais menções, como no exemplo abaixo:

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A visualização de dados ou data visualization contribui para a representação visual das relações sociais em redes digitais e seria, na ótica de Lima (2013) o primeiro passo para sua compreensão e conscientização sobre essas estruturas de um complexo sistema. Outra possibilidade de uso da visualização de redes no estudo das mídias sociais é a análise da co-ocorrência entre palavras. Lima acredita que a recorrência de termos em redes sociais demonstra uma intrincada malha de relacionamentos entre os atores e que possibilita mapear frases e palavras específicas e citações cruzadas em conversações online, como no exemplo abaixo:

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Além dessas oportunidades de uso da visualização de dados, autores como Malini (2016) fizeram uso dos grafos para analisar hashtags e compreender como movimentos sociais e políticos reverberaram nas redes em períodos temporais.

Além dos grafos: método perspectivista

Malini considera que por mais que os grafos indiquem fluxos em conexão e conjunções sociais, essas visualizações de interações de perfis, tão tradicionais em estudos de redes sociais da Internet, trazem consigo uma ilusão de ótica, que é a crença da compreensão da globalidade da rede:

Acostumamo-nos, na análise de rede social, a compreender os fenômenos sociais a partir da metrificação dos atores, a propagar avidamente apenas o valor acumulado por um nó, em termos de popularidade, mediação, distribuição, centralidade, como se os atores estivessem sozinhos e assim agendassem um pensamento através de sua influência (MALINI, 2016, p.4)

Para o autor, é preciso superar o foco limitado dos estudos que apenas valorizam a autoridade dos perfis, considerados influenciadores, em função da topografia da rede, centralidade, popularidade e difusão de mensagens para se valorizar o aspecto coletivo da densidade das relações. Ou seja, abandonando-se a análise de um único ator para focar no conjunto das correlações seria possível aproximar-se da globalidade da rede, pois a força de um perfil está também associada à densidade das relações com os demais.
Malini complementa que os grafos podem ter, além do foco em perspectivas topológicas, recortes temporais, por exemplo, um grafo formado a partir da hashtag mais utilizada na rede social Twitter no dia das manifestações contra o aumento do preço das passagens de ônibus em julho de 2014:

foto malini01

Análise e oportunidades

Essa preferência pelas redes temporais e não apenas uma visão segmentada na topologia pode ajudar na compreensão de como uma opinião ou tema vai sendo debatido em rede, seguindo as etapas de Coleta, Mineração, Visualização, Modularização, Modelagem e Reprocessamento de dados. Tomando como exemplo a visão topológica, que pensa apenas na posição do perfil no grafo, ou seja, sua centralidade, pode-se incorrer no erro de desconsiderar a variedade de relações e que esse ator pode ser central para apenas um ou para muitos outros perfis:

A possibilidade de analisar perspectiva a perspectiva não se reduz apenas ao texto e assim encontrar a natureza vocabular que ampara o ponto de vista. Pode ser também estendido ao universo das imagens que cada uma dessas associações difunde, para cartografar as imagens que viralizam em cada uma das subredes estudadas. Outra possibilidade é também identificar a rede de hashtags em cada uma dessas perspectivas, reforçando o estudo mais qualitativo do discurso semântico. O importante é perceber que esses foram exemplos de pontos de vista em rede são perspectivas topológicas, possuindo uma posição que demarca relações de proximidade ou de distanciamento entre eles. (MALINI, 2016, p.22)

Insights para estudos de análise de redes

Indo além da posição do ator na rede, Malini (2016) criou o método perspectivista, que cruza análise de redes sociais e de conteúdo com estudos sobre influência social. Por mais que as ferramentas de visualização de dados sejam importantes, estabelecer correlações e fazer uma abordagem com diversas metodologias pode enriquecer o trabalho de mineração, categorização e análise dos dados.