O grupo focal é uma técnica de coleta e análise de dados das pesquisas qualitativas. Trata-se, em suma, de uma metodologia usada em entrevistas de grupos. No artigo Grupo focal como técnica de coleta e análise de dados em pesquisas qualitativas, seus autores explicam as vantagens e desvantagens dessa técnica, assim como as etapas dos processos de coleta e análise, com o objetivo de ampliar o uso do método no âmbito das pesquisas de enfermagem.
Embora seja escrito por pesquisadores da área de Saúde, o artigo dirige-se igualmente a profissionais e acadêmicos de outros setores – principalmente das Ciências Sociais, área em que o grupo focal se originou.
O método consiste em entrevistar grupos de pessoas, e a interação entre os participantes é fundamental para que a técnica alcance seus fins. Os encontros do grupo servem para que seus integrantes discutam de modo mais aprofundado os temas de interesse do pesquisador. Isso porque há um nível de engajamento que outras técnicas de coleta de dados não proporcionam.
VANTAGENS
Entre as vantagens elencadas pelos autores do artigo, estão:
- A troca de experiências e as discussões entre os participantes permitem maior reflexão sobre os assuntos, em comparação com uma entrevista individual;
- Participantes são estimulados a pensar em assuntos pouco explorados ou evitados, sobre os quais alguns talvez nem tivessem opinião antes da interação com os demais;
- As pessoas podem mudar de opinião ou fundamentar melhor a que possuem – seja no mesmo encontro ou entre encontros distintos do grupo focal;
- O pesquisador tem acesso não apenas a o que as pessoas pensam, mas também a como e por que pensam.
DESVANTAGENS
Já entre as desvantagens mencionadas, estão:
- A entrevista em grupo pode desestimular a dissidência em relação a opiniões e posturas majoritárias, fazendo com que os dissidentes não se sintam à vontade para rejeitar e até mesmo finjam concordar com posições de que, na verdade, discordam;
- Dificuldade de garantir 100% de anonimato;
- Risco de os juízos de valor do pesquisador influenciarem as discussões;
- Riscos de os debates serem dominados por alguns participantes ou de fugirem ao tema inicialmente proposto.
PROCEDIMENTOS DO GRUPO FOCAL
A dinâmica dos encontros do grupo focal deve sempre contar com um moderador (coordenador), que disporá de guia de temas sobre os objetivos e as questões a serem tratadas. Ele explicará o funcionamento da dinâmica, os aspectos éticos do estudo e o processo interativo. Também cabe ao moderador estimular o debate, resumir as reuniões anteriores e encerrar a sessão firmando compromisso para os próximos encontros.
Outra figura indispensável é a do observador. Ele deve monitorar o equipamento de gravação, auxiliar nas discussões e fazer registros relacionados às falas dos participantes, para facilitar a transcrição.
Algumas recomendações para o bom funcionamento da dinâmica do grupo focal são:
- Ambiente acolhedor, que assegure (tanto quanto possível) a privacidade dos participantes;
- Disposição de assentos que facilite a interação entre as pessoas. Exemplo: formato de círculo;
- Divisão em, no mínimo, 2 grupos para cada tópico pertinente ao tema tratado;
- Duração do encontro: 1h30 a 2 horas;
- Existência de grupos em cada lugar (região geográfica) em que se considere haver diferenças significativas em relação ao tema;
- Integrantes do mesmo grupo devem possuir ao menos uma característica em comum importante;
- A maioria dos pesquisadores defende a formação de grupos homogêneos, mas também há vantagens na diversificação dos grupos, pois isso maximiza diferentes perspectivas;
- Tamanho sugerido: 6 a 15 pessoas, levando em consideração que grupos maiores favorecem a discussão de mais ideias distintas, enquanto grupos menores permitem o aprofundamento de uma menor quantidade de ideias.
ANÁLISE DOS DADOS
Em relação à técnica de análise dos dados coletados no grupo focal, os autores do artigo ressaltam que existem divergências entre os pesquisadores sobre a metodologia a ser adotada. Mas propõem a aplicação do modelo de Análise S.W.O.T., que analisa tanto o ambiente interno quanto o cenário externo de determinada organização.
Nessa análise, Forças (Strenghts) e Fraquezas (Weakness) são os fatores internos, como habilidades e recursos que a organização tem (ou não) em relação aos fatores externos. Já as Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) são os fatores externos, que fogem ao controle da organização.
A partir daí, propõe-se a Análise Focal Estratégica (AFE), própria para o grupo focal, que valoriza os participantes como sujeitos ativos no processo de pesquisa. Assim, os encontros iniciais servirão para a coleta de dados.
Depois, quando a discussão já estiver mais aprofundada, deve haver no mínimo 1 novo encontro para analisar as forças e fraquezas capazes de alterar (para bem ou para mal) a capacidade de interação e associação do grupo em relação ao fenômeno investigado – ou seja, o cenário interno.
Por fim, a AFE do cenário externo, que deve ocorrer em outro encontro do grupo, servirá para identificar as oportunidades e os desafios relacionados ao objeto de estudo.