As novas possibilidades que as mídias sociais trouxeram consigo vieram acompanhadas de uma série de desafios para o campo da pesquisa. Embora o assunto e a discussão não sejam tão recentes, ainda há muitas incertezas no que tange à execução responsável de pesquisa em ambientes online. Várias questões éticas e legais ainda não conseguiram alcançar a volatilidade das plataformas que se tornam cada vez mais fontes de dados sociais. No entanto, cabe aos profissionais de monitoramento e pesquisa buscar um arsenal metodológico que responda às tensões éticas que venham a surgir durante o trabalho com mídias sociais. Para auxiliar nessa questão, trouxemos ao blog algumas publicações atuais que oferecem códigos de conduta úteis para aqueles que atuam com pesquisa em mídias sociais.
Divulgado em 2011 pela ESOMAR, organização mundial especializada em pesquisa de mercado, o “ESOMAR Guideline on Social Media Research” busca fornecer diretrizes responsáveis para o uso das mídias sociais em pesquisas de opinião e de mercado. Em vez de apontar metodologias, o documento aborda princípios éticos e profissionais que devem ser levados em consideração no contexto de pesquisa online. Algumas questões importantes como proteção de dados e propriedade intelectual são trazidas à discussão enquanto há uma preocupação de guiar as diretrizes elaboradas conforme princípios de leis e regulações atuais, também presentes no ICC/ESOMAR Code. A recomendação é que, atrelado à leitura do guia, o pesquisador também tenha conhecimento do ICC/ESOMAR International Code on Market and Social Research e de outros códigos de conduta disponibilizados pela organização – para que haja uma compreensão geral dos valores e princípios da organização voltados para a pesquisa de mercado.
Como parte do projeto Wisdom of the Crowd, da Ipsos MORI, foi divulgada em 2015 a publicação “#SocialEthics: a guide to embedding ethics in social media research”. Com a autoria de Harry Evans, Steve Ginnis e Jamie Bartlett, em colaboração com a CASM Consulting LLP, Demos e University of Sussex, o guia é o resultado de uma primeira publicação, também de 2015, que contou com uma revisão do quadro legal e regulatório para o uso das mídias sociais em pesquisa de mercado. O relatório final, baseado nos mesmos fundamentos, apresenta conclusões de pesquisa realizada com stakeholders e usuários de mídias sociais – depois de uma revisão bibliográfica sobre o assunto – e aponta recomendações para como a indústria da pesquisa deve proceder nesse novo ambiente de trabalho. A promessa é enfrentar o dilema ético envolvendo o imenso volume de dados que a nova metodologia de pesquisa proporciona e atualizar as regras e diretrizes existentes que cobrem a tradicional pesquisa de mercado.
Em um post de 2011, um dos maiores nomes mundiais quando se trata de pesquisa de mercado, Ray Poynter, também abordou a ética na pesquisa em mídias sociais na publicação “Ethics and Social Media Research”. O fundador do The Future Place constatou em seu blog que a pesquisa em mídias sociais criou uma série de problemas para profissionais de pesquisa de mercado, sejam eles herança de estresses tradicionais num novo contexto ou novos desafios particulares do ambiente online. No texto, ele aborda quais seriam esses problemas principais: consentimento informado, prática comum da pesquisa de mercado que ganha complicadas proporções nesse novo contexto; a questão do anonimato, uma vez que as respostas, na maioria das vezes, vêm atreladas a um perfil/uma identidade pública; o conflito entre pesquisa de mercado e marketing, num cenário onde as marcas buscam cada vez mais brand advocates para falar sobre elas; e, por fim, a fidedignidade dos resultados.
Para uma leitura mais aprofundada da visão do pesquisador sobre a temática, recomendamos também o livro “The Handbook of Online and Social Media Research: Tools and Techniques for Market Researchers”, de sua autoria, publicado pela ESOBAR ainda em 2010, antes da postagem.
Partindo de uma perspectiva mais acadêmica, temos a recente publicação “Social Media Research: A Guide to Ethics”, organizada pela Profª. Drª Leanne Townsend e pela Profª. Claire Wallace, da University of Aberdeen. Seguindo a mesma lógica das demais recomendações, passando pelas novas dificuldades que a pesquisa com dados de mídias sociais colocam em cheque alguns quadros éticos tradicionais, o documento tem como objetivo fornecer diretrizes claras no uso ético de dados de mídias sociais para pesquisa. Resultado de uma série de atividades com pesquisadores no projeto “Social Media, Privacy and Risk: Towards More Ethical Research Methodologies”, a publicação indica orientações éticas para uso de pesquisadores, estudantes, comitês de ética e qualquer outra pessoa interessada na ética de metodologias de pesquisa online. O guia fornece aos leitores um quadro que antecipa os problemas e as áreas relevantes que devem vir à tona durante a pesquisa, ajudando-os a tomarem decisões bem-informadas acerca da abordagem mais ética para a sua pesquisa.
Por fim, trazemos ainda o artigo “Blurring the Boundaries? New Social Media, New Social Research: Developing a network to explore the issues faced by researchers negotiating the new research landscape of online social media platforms”, resultado de uma série de atividades realizadas no National Centre for Research Methods. A conferência The New Social Media, New Social Science? Network (NSMNSS) reuniu vários pesquisadores internacionais para discutir as possibilidades e os desafios das novas plataformas de redes sociais para pesquisadores de ciências sociais. Todo o debate culminou na produção dessa publicação que discute todas as questões relacionadas a ética na pesquisa com mídias sociais já mencionadas nas outras indicações, mas também oferece uma visão mais panorâmica da discussão, uma vez que várias perspectivas foram colocadas em jogo no evento – o que enriquece os aprendizados envolvendo a temática.