O Instagram é utilizado de diversos modos por centenas de milhões de usuários ao redor do mundo desde 2010, e perguntas como: “O que é o Instagram?” ou “Quais as vantagens dessa ferramenta?”, podem não ser as perguntas mais proveitosas para se entender o comportamento das pessoas. Esta é uma das premissas do livro Instagram and Contemporary Image, realizado por Lev Manovich, Diretor do Cultural Analytics Lab. A publicação é enriquecida por estudos realizados durante quatro anos (2012 a 2015) pelo laboratório, em parceria com diversos grupos e laboratórios em todo o mundo. Foram dados e imagens provenientes de 58 cidades de 31 países, com a análise de milhões de pontos de dados para estudar os comportamentos, culturas e as práticas realizadas nesta ferramenta de compartilhamento de imagens em torno do mundo.
A publicação foi dividida em 4 partes, que se debruçam sobre tipos de práticas e comportamentos (“Casual Photos”; “Professional and Designed Photos”; “Instagramism” e “Themes, Feeds, Sequences, Branding, Faces, Bodies”).
Casual Photos: Aborda as questões culturais e cronológicas relacionadas a história da fotografia e relembra os sentimentos sociais pelos antigos álbuns de família. Os valores estéticos também são debatidos, a partir do entendimento cultural de cada região das imagens analisadas.
Uma das respostas que este capítulo traz é a de que os usuários que compartilham as “fotos casuais” não necessariamente buscam por milhares de seguidores que compartilhem suas imagens, mas utilizam a ferramenta como arquivo pessoal e como um meio de conversa com as pessoas de suas redes já conhecidas. Contudo, mesmo não sendo a proposta principal, ficam felizes quando recebem muitas interações em seus compartilhamentos.
Professional and Designed Photos: A disponibilização dos dispositivos móveis no mercado, com custos menores do que as câmeras profissionais e que aderem algorítimos de focalização inteligente e outras especifidades da fotografia profissional, fez com aumentasse a reprodução e compartilhamentos de tais fotografias, sendo este o segundo tipo mais comum de postagens.
Por se tratar de um assunto mais específico, este capítulo mostra como a taxinomia foi desenvolvida para analise das imagens, tags e assuntos, com o objetivo de entender as diferenças entre as fotos casuais e as fotos profissionais. Também foram realizadas comparações entre as categorias dos bancos de imagens de alta qualidade, iStock e Shutterstock, pois são ambientes em que imagens com este “padrão profissional” são requisitadas. Outro ponto enfatizado, é que as tags como #instagood e #followme não foram consideradas, visto que não dizem nada sobre o assunto pretendido ou emoção dos usuários.
Instagramism: Nesta parte da pesquisa, é debatida a identidade cultural contemporânea, devido as publicações similares às da revista Kinfolk, que utiliza pequenos recortes de vídeos ou imagens com poucos elementos (minimalismos) para contar uma história. E são detalhadas as características dos usuários que adotaram o Instagram como um meio de democratizar o design e a produção de imagens para interagir com o público que os seguem, a partir do desenvolvimento de cenários e linguagens, como característica própria na rede.
O termo Instagramism, é uma analogia aos movimentos artísticos, como o futurismo, cubismo, expressionismo, etc. Dentre os outros resultados, foi identificado que tanto o Instagram quanto a Kinfolk – não estão preocupados em contar histórias com uma narrativa cinematográfica, por exemplo, pois são compartilhadas fotos de comida, paisagens, objetos, de algumas partes do corpo, etc., que não sinalizam emoções, mas criam um histórico harmônico dentre estes tipos de compartilhamentos.
Themes, Feeds, Sequences, Branding, Faces, Bodies: Esta última parte do estudo traz informações mais densas, em comparação com as partes anteriores e os períodos em que foram analisadas.
E devido a complexidade da pesquisa relacionada à antropologia, sociologia e a cultura do capitalismo, o Instagramism é minuciosamente detalhado neste capítulo, onde surgiu a necessidade de entender o termo “instagram aesthetics” em razão de ter sido frequentemente citado no decorrer do projeto. Detectando, por exemplo, que os ‘Instagrammers’ (fiéis usuários do Instagram) ao redor do mundo, entenderam as regras e estratégias do aplicativo para criar perfis populares. Panorama que também enfatiza que estas habilidades não são sempre comercializadas pelos usuários, devido o prestígio social nas relações interpessoais e nas produções estéticas, chegando às replicações de conteúdos culturais.
Durante a finalização é explicado que o Instagramism não se trata de uma diferença binária do mainstream, mas sim, de uma combinação de elementos particulares, a partir do desenho de diferentes universos históricos, incluindo as ofertas comerciais.
Observação:
Como complemento, indicamos também os artigos abaixo, pois em ambos constam técnicas de pesquisas que foram utilizadas no estudo Instagram and Contemporary Image:
Em “O que é Visualização?” o autor debate, explica e cita os métodos, as metodologias e técnicas de alguns projetos relacionados à Visualização da Informação, Visualização Científica e Visualização Direta, com o objetivo de exemplificar suas diferenças e uso.
Já em “A Ciência da Cultura? Computação Social, Humanidades Digitais e Analítica Cultural”, Manovich descreve as especificidades das Ciências Sociais e Ciências da Computação, apontando como os estudiosos de Humanidades Digitais usam computadores para analisar artefatos históricos.