Uma das maiores mudanças no mercado de monitoramento e coletas de dados nas mídias sociais aconteceu no momento em que o Facebook resolveu “fechar sua API”. O comodismo confortável de agências e ferramentas comerciais sofreu uma boa chacoalhada no dia em que eles tiveram que informar aos seus clientes que já não era mais possível monitorar o Facebook, uma fonte de dados sociais e rastros digitais riquíssimas para melhor compreender hábitos comunicacionais e de consumo da sociedade contemporânea.
E é em cima das reações mais comuns a esse choque que Marcelo Alves desenvolve o capítulo “Abordagens de coleta de dados nas mídias sociais” no livro Monitoramento e Pesquisa em Mídias Sociais: metodologias, aplicações e inovações. O texto segue para a discussão do “terceiro momento” da reação pós a decisão da ruptura, com foco no desenvolvimento de novas técnicas de inovação no processo de obtenção de dados públicos do Facebook, uma vez que “é uma plataforma extremamente rica para obtenção de grande volume de informações poderosas para gerar decisões baseadas na inteligência de dados em diferentes áreas”. A proposta é oferecer um guia básico para superar esse limites e aprender como coletar esses dados.
Na primeira parte, o sócio-diretor da Vértice Inteligência demonstra as principais diferenças entre softwares comerciais e aplicações de código aberto desenvolvidas para pesquisas acadêmicas. São apresentados os pontos positivos e negativos de ambas alternativas para a coleta de dados e como o gerenciamento de extrações pela API do Facebook pode complementá-las. Embora as metodologias acadêmicas de pesquisa possam vir a oferecer maior riqueza na extração de dados, não há como desconsiderar alguns fatores importantes para a escolha de ferramenta, como o objetivo, o briefing, as plataformas, as habilidades da equipe, etc. – o que pode dar vantagem à opção dos softwares comerciais plenos.
A segunda parte, avançando num debate mais aprofundado sobre técnicas de coleta de dados, apresenta o que são as APIs, em que diferem de outras formas de mineração de dados, e a importância de compreender a economia política das plataformas, os versionamentos da aplicação e abordagens de coleta. Muito embora seja um termo muito comum na área, ainda há algumas dúvidas quanto à sua função principalmente por parte de profissionais menos operacionais/táticos e mais estratégicos. Para fins didáticos, vale compartilhar essa proposta de conceitualização feita por Alves no capítulo:
“Elas são séries de comandos que permitem a usuários e aplicativos se comunicarem com os sites e requisitarem dados hospedados em seus servidores. Os aplicativos acadêmicos e alguns softwares plenos nada mais são do que interfaces que se conectam às APIs e facilitam o processo de coleta de dados. Contudo, eles aproveitam apenas parte das funcionalidades existentes na documentação. Assim, compreender as lógicas e as referências das APIs pode abrir portas essenciais para expandir os horizontes dos pesquisadores e dos profissionais que trabalham com dados das mídias sociais.”
Por fim, o capítulo ainda ilustra o processo de coleta de dados para o Facebook considerando as extensas potencialidades de extração de dados, com apontamentos fundamentais para elucidar o comportamento de consumidores, opiniões, mobilizações políticas e muitos outros casos. O autor oferece uma proposta metodológica com base em experiência empírica para fazer pesquisa nas mídias sociais (principalmente no Facebook, mas correlacionando também com o Twitter) considerando duas dimensões: a repercussão, que dá conta dos padrões discursivos de debate dos temas; e a propagação, referente aos mecanismos em rede e padrões de atuação dos atores na disseminação das mensagens.
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