O monitoramento em mídias sociais digitais tem sido uma atividade essencial para a comunicação e para a compreensão dos fenômenos da sociedade atual. No campo da pesquisa, aprofundou processos e tornou possível a descoberta de novos padrões de comportamento, pois, além de cumprir com o objetivo inicial que a ela cabia, é possível relacionar outros assuntos, gerar novos insights, reconhecer necessidades de um público e encontrar novas perguntas pertinentes.
Na década de 90, quando a internet foi reconhecida como a grande descoberta que modificaria as relações, foram criados conceitos na antropologia como “cibercultura” e o “ciberespaço”. A internet foi percebida como um meio que tornava acessível conectar pessoas, relativizar o conceito de tempo e juntar informações que, manualmente, levariam anos. Tornou-se possível aproximar as distâncias e encontrar padrões de comportamento entre povos de diferentes “tribos”: locais, culturais ou de interesses em comum. Como explica o artigo de Débora Zanini, no livro Monitoramento e Pesquisa em Mídias Sociais:

“(…) Se antes as pesquisas etnográficas se davam apenas em “tribos” distantes, os antropólogos começaram a se interessar por todas as formas de sociabilidade humana encontradas – ocidental, oriental, a cidade, o bairro vizinho, a favela, os skatistas, o movimento feminista, entre toda a infinidade possível de convivência humana. Todas as associações humanas começaram a ser alvo de estudo dos etnógrafos”. (ZANINI, 2016, p.163).

compreensao social

Devido ao “filtro protetor” que a internet fornece, as pessoas não sentem receio em expressar suas opiniões, para o bem e para o mal. Mas no campo da pesquisa, ajuda a monitorar o pensamento dos usuários e construir novas percepções desta sociedade em constante e rápida mudança.
No curso ministrado por Wesley Muniz, foi possível fazer reflexões sobre qual a importância do monitoramento na construção do conhecimento: “Qualquer pessoa com acesso à tecnologias digitais, internet e motivação, pode emitir opiniões através de textos, áudios, vídeos etc.” E com isso, é possível fazer pesquisas que aproveitam do fornecimento de dados espontâneos para reconhecer incômodos.
Interessante notar que, quanto mais conectados aos meios digitais, mais próxima a relação que se forma entre o indivíduo online e o offline, pois as conexões que a internet possibilita, são tão reais quanto as que acontecem no mundo físico.

“As mídias sociais são espaços cada vez mais populares e comuns ao cotidiano das pessoas. Tanto é assim que os teóricos contemporâneos da cibercultura, e por consequência vários etnógrafos, dizem que não é mais possível, e nem recomendado, analisar os espaços online e offline como espaços diferentes da vida de um indivíduo. Estes dois ambientes já se mesclam de forma praticamente imperceptível, no cotidiano das pessoas” (ZANINI, 2016, p. 174).

Desta forma, as marcas e meios de comunicação reconheceram no mundo digital uma nova oportunidade de conexão com os indivíduos e sentiram a necessidade de modificar o antigo movimento de suas demandas. Se antes as pessoas tinham apenas a função de receptores das notícias, novelas, discursos e comerciais, hoje elas têm um ponto de encontro para discutir e reclamar do que não as representa, fazendo com que o jogo entre a parte que produz e a que consome o discurso precisem viver em constante diálogo.
As marcas e grandes empresas já possuem setores de inteligência especializadas com o objetivo de absorver essas informações e se posicionar no mercado a partir do que foi aprendido com a visão de seus consumidores. Mas como poderíamos utilizar as tecnologias para auxiliar em pesquisas tradicionais sobre a população brasileira?
O curso de monitoramento em mídias sociais proporciona o aprendizado muito além de soluções para a comunicação digital da marca, pois também nos mostra a possibilidade de detectar novos produtos e serviços através da percepção de necessidades expressadas nos canais. Como exemplo, pode-se citar uma marca de pastilhas em que os usuários costumavam comentar que consumiam sozinhos, para não oferecer aos colegas, pois a embalagem era pequena demais. Surgiu então o insight de criar novas embalagens que se adequassem à diversos gostos.
Saindo do campo do consumo, podemos também exemplificar o caso da instituição científica U.S. Geological Survey, que estuda fenômenos naturais e, que desde 2010 passou a utilizar as menções no Twitter para detectar terremotos, cruzando as conversações sobre suspeitas de movimentação e sintomas de mal estar comuns à este fenômeno, com a localização dos usuários que publicaram. Este processo é descoberto em 20 segundos, enquanto as ferramentas tradicionais costumam levar em média 20 minutos.
Tem sido cada vez mais essencial que as marcas e organizações compreendam o que é relacionado à sua marca nos ambientes digitais e quais públicos se atraem por seu conteúdo. Tanto para gerar novas oportunidades quanto para construir uma relação sólida com o seu consumidor e evitar crises de imagem. E para isso, é necessário ter profissionais capacitados para encontrar, lapidar e analisar estes dados de forma realmente efetiva.