por Rosana Medeiros*
(Bertolt Brecht)
Utilizando as palavras de Brecht, há quem diga que “vivemos tempos sombrios”, no entanto, nunca houve tanta participação popular na política nacional como nos últimos anos. Nesse sentido vemos o surgimento de ferramentas que se encarregam de monitorar debates específicos, cobrar ações de parlamentares e alertar grupos de interesse na internet.
Há mais de um século, o dramaturgo e poeta Bertolt Brecht imaginou que o rádio permitiria uma comunicação dialógica e conversional que nos encaminharia para um consenso e, assim, as massas poderiam exigir suas pautas diretamente do Estado. (SODRÉ, 2002, p. 72)
“é preciso transformar o rádio, convertê-lo de aparelho de distribuição em aparelho de comunicação. O rádio seria o mais fabuloso meio de comunicação imaginável na vida pública, um fantástico sistema de canalização. Isto é, seria se não somente fosse capaz de emitir, como também de receber; portanto, se conseguisse não apenas se fazer escutar pelo ouvinte, mas também pôr-se em comunicação com ele.” (Brecht, Bertolt, Teoria do Rádio)
A liberação do pólo emissor, nos tornou além de consumidores, produtores de conteúdo, nos aproximando da utopia tecnológica de Brecht. As redes sociais e fóruns propiciaram um período de consolidação do debate onde, as discussões que antes se restringiam às mesas de jantar e bares em conversas informais, ganharam grandes proporções, abrindo margem a troca de ideias entre diferentes tipos de pensamento.
Estamos distantes de um consenso entre todos os grupos integrantes da sociedade, mas ganhamos articulação com nossos grupos e isso permitiu que ideias e demandas de grupos considerados minoritários, antes reprimidas pela falta de acesso a produção nos meios de comunicação, fossem difundidas com mais facilidade articulando grupos nas redes e fora delas.
A cada dia são criados novos meios de participação e empoderamento das populações em relação às decisões políticas, propiciando maior consciência do jogo político e de seus direitos. Um exemplo é a robô feminista Betânia, ou Beta como é mais conhecida. O programa fiscaliza a internet buscando notícias sobre retrocessos ao direito das mulheres em pauta e mobiliza o campo feminista nas redes sociais.
A Beta é um exemplo de tecnologia e inclusão quando fiscaliza um número enorme de dados para gerar informação e evitar retrocessos e mostra como os bots (programas automatizados) de interação podem ser utilizados para boas causas.
A internet está cheia de iniciativas que visam estimular a participação popular e dar ferramentas para que o povo se apodere dos seus direitos e passe a atuar de maneira mais forte nas decisões políticas. Uma das mais interessantes da atualidade é a Frente Favela Brasil, um grupo que visa se tornar partido político e defender a causa das pessoas negras e residentes em comunidades.
Em um período político de enorme falta de representatividade, uma iniciativa que visa finalmente propiciar que moradores de comunidade e a população negra ganhe representação no legislativo emerge como uma esperança de empoderamento e finalmente da construção de uma democracia que contemple a sociedade de fato.
(Rede da página Frente Favela Brasil, no Facebook)
A Frente Favela Brasil possui uma rede bastante articulada no Facebook. Através das suas redes a página fornece informações sobre as ações e sobre os eventos, além de outras funções.
As redes sociais já permitem que as ações da república sejam debatidas e a soma de opiniões ecoa junto aos poderes: executivo, legislativo e judiciário, munindo-nos pela primeira vez uma ferramenta que permite que cobremos ações de governos cotidianamente. Como toda transformação exige aprendizado, ainda acontecem muitos enganos e também vemos o crescimento exponencial das fake news.
Um veículo importante de confirmação de notícias é o Truco, da Agência Pública. A iniciativa checa informações sobre conteúdos publicados na internet confirmando a sua veracidade através de fontes.
Por isso é importante ressaltar a importância de checar informações sobre os agentes políticos na internet. Alguns projetos, que se afirmam isentos se revelaram partidárias ao longo do tempo, algumas até com um viés antidemocrático. O Movimento Brasil Livre é um exemplo de como as ferramentas da rede podem ser utilizadas com intuitos antidemocráticos e compartilhamento de notícias sem comprovação. Vale lembrar o caso MBL versus Agência Pública que tratava da checagem de informação sobre um vídeo que falava do regime semiaberto.
E você? Conhece outros canais digitais que podem ajudar a escolher em quem votar nas eleições de 2018? Conta pra gente nos comentários.
Fontes:
Beta
Frente Favela Brasil
Rádio Varzea
LOPES, GC. Redes sociais, emancipação política, desobediência civil e mobilização – Resgatando o pensamento de Kant e Thoreau– Cadernos de Comunicação. v.17, n.2, jul–dez 2013.
SODRÉ, M. Antropológica do espelho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
*Rosana Medeiros é aluna de cursos IBPAD, graduada em publicidade e propaganda e cursa especialização em Marketing político e estratégia eleitoral. Escreve e acompanha assiduamente temas políticos, de gênero, inclusão e identidade brasileira, com atuação variada na área digital, incluindo conteúdo e estratégia.
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