por Rosana Medeiros*
No mês das mulheres, o monitoramento da tag “mulheres na política” permite observar algumas distorções que podem ser aprofundadas pelos dados da participação das mulheres nos cargos de poder.
O Brasil ocupa a posição 152 entre os 190 países pesquisados no ranking de mulheres na política, perdendo para alguns países do oriente médio e para todos os países da América do Sul. A população é constituída 51% por mulheres, no entanto, as mulheres ocupam apenas 10,5% da câmara federal e 16% das cadeiras do Senado.
De 11 de fevereiro ao dia 13 de março, monitorei o termo “mulheres na política”, no Twitter, utilizando o Scup. No período, foram analisados 661 tweets. As menções positivas estão em verde no gráfico, as menções neutras estão em amarelo e as menções classificadas como negativas estão vermelhas.
Houve um aumento expressivo do volume de menções no dia 8 de março, ou dia das mulheres, e a maioria das menções foi positiva nesse dia. Nos dias anteriores, a divisão entre menções positivas e negativas foi mais equilibrado.
– 590 postagens (ou 89,26%) tiveram conteúdo positivo para a pauta das mulheres na política;
– 51 postagens (ou 7,87%) tiveram conteúdo que se opõe a presença de mulheres na política;
– Em 19 tuítes (ou 2,87%), não foi possível identificar se trata-se de uma menção positiva ou negativa ou fugiram ao tema, essas foram classificadas como neutras.
Também foi notável a participação masculina. Entre os tuítes que possibilitaram a classificação da participação entre homens e mulheres, 221 tuítes foram feitos por mulheres e 214 por homens, o restante foram tuítes feitos por perfis que impossibilitaram classificação, ou veículos de imprensa ou governamentais.
Entre as porcentagens de classificação, 29,7% foram postagens de influenciadores; 29,5% foram retuítes. Essas classificações são automáticas. As cinco classificações com mais tuítes foram: público influenciador, tipo retuíte, mulher, homem e discurso machista.
A quinta classificação mais presente no monitoramento foi “discurso machista”, nessa tag participaram tanto homens, quanto mulheres.
Dividi as postagens entre homens e mulheres para verificar a relação entre o gênero e a quantidade de postagens positivas ou negativas.
Foi possível constatar que nos perfis classificados como pertencentes a mulheres, o número de menções negativas foi menor do que em tuítes onde foi possível identificar terem sido feitos por homens. As menções positivas são a parte verde das barras, as menções negativas vermelhas e as neutras amarelas.
Entre os termos mais negativos, destacam-se as palavras “cotas”, presente em 35% das menções e “travestis”, em 20% das menções. Entre as palavras presentes nas classificações negativas, é possível encontrar origem do termo “cotas”, citado em 35% das classificações negativas.
As menções à palavra surgem a partir do vídeo do youtuber Mamãe Falei, ligado ao MBL, que trata sobre a participação feminina na política e crítica às cotas de 30% de candidaturas de mulheres.
O termo “travestis” também tem uma grande quantidade de menções negativas ligadas diretamente à transfobia.
Exemplo de tuíte transfóbico na busca sobre o termo “mulheres na política”
As palavras mais usadas nas postagens foram: mulheres (616), política (523), participação (136) dilma (77), muitas (70), congresso (70), 8m (68), presidentas (66), brasil (62) cacobrasil2 (59), mulher (46) politica (39) história (38), chutandoaescada (33), podcastnbw (32), países (31), representatividade (30), março (30). As menções tiveram mais de 30 resultados na pesquisa.
A partir do dia das mulheres, o termo “mulheres na política” teve um aumento de menções positivas. A maioria das menções foi feita por influenciadores (pessoas que tem mais de mil seguidores) e o número de retuítes foi a segunda maior classificação, seguido por mulheres em 3° e homens em 4°. Em quinto lugar, ficou a classificação “discurso machista”.
Exemplos de tags com a classificação “discurso machista”
A classificação “feminista” também estava presente no monitoramento, no entanto, foi vencida pela classificação “discurso machista” e não apareceu entre as 5 classificações mais utilizadas. O machismo venceu ao menos nesse monitoramento, pois as menções classificadas como feministas tiveram número inferior a discurso machista. Além disso, a participação feminina foi maior a participação masculina, apenas por 7 tuítes e estamos no mês da mulher.
*Rosana Medeiros é aluna de cursos IBPAD, graduada em publicidade e propaganda e cursa especialização em Marketing político e estratégia eleitoral. Escreve e acompanha assiduamente temas políticos, de gênero, inclusão e identidade brasileira, com atuação variada na área digital, incluindo conteúdo e estratégia.