Como publicamos no artigo da semana passada, a análise de redes sociais pode ser uma técnica bastante útil para melhor compreender a polarização política do atual cenário brasileiro nas mídias sociais – mais especificamente, no Facebook. Com um simples trabalho exploratório, mostramos, através de uma rede interativa, como a análise dos clusters facilita a interpretação cognitiva dos grupos em rede.
É interessante perceber, entretanto, que essa metodologia expande o foco central da pesquisa – a temática política – para outros campos tangenciais que, caso bem analisados, podem indicar questões relevantes para estudo. É o que mostramos, por exemplo, a partir da identificação dos principais veículos de mídia na rede. Embora não seja uma análise determinante, identificar a posição de páginas como Veja, Folha de S. Paulo e O Globo pode levantar alguns apontamentos.
Da mesma forma, entender a disposição de outras páginas relevantes na rede abrem caminho para que possamos começar a dar conta de manifestações sócio-culturais ligadas a cada grupo. Por exemplo, ao fazermos o recorte no grafo para identificarmos quais são os artistas musicais mais referenciados por cada cluster, podemos começar a interpretar algumas referências culturais relevantes. Na rede específica, à Direita, temos Lobão, Nando Moura e Agentes da Cia; e, à Esquerda, Tico Santa Cruz, Flora Matos e Rael.
Figuras como Lobão e Nando Moura têm se posicionado cada vez mais sobre a política brasileira. Ambos mantêm conexões importantes – tanto tecnicamente, em rede, quanto fora dela – com outros atores importantes da Direita, como o próprio Olavo de Carvalho – que teve uma das páginas mais referenciadas do cluster, conforme exibido no outro post. Já a página de Lobão, por exemplo, é referenciada por diversas outras influentes na Direita, como toda a família Bolsonaro.
Do outro lado temos um cenário semelhante com Tico Santa Cruz, que também tem sido bastante ativo no posicionamento à esquerda. Igualmente, é referenciado por páginas importantes no grupo, como Brasil de Fato, Jandira Feghali e Jean Wyllys. Já artistas como Rael e Flora Matos aparecem com relevância pela conexão com a página Jovens de Esquerda; no caso da rapper, a Anistia Internacional Brasil também é uma conexão importante, o que pode indicar o interesse comum por pautas periféricas.
É importante elucidar que, por se tratar de um levantamento exploratório (foram utilizadas como fontes apenas 40 páginas de cada lado), não há como esculpir nenhuma conclusão absoluta sobre a relação entre músicos e os respectivos grupos. No entanto, é uma possibilidade que abre portas para estudos mais aprofundados, possivelmente combinando técnicas de pesquisa comuns à internet.
Uma vez que a performance de gosto é fator importante para a construção da identidade nas mídias sociais, compreender esses aspectos envolve contextualizar os indivíduos num panorama cultural específico. Confira, logo abaixo, uma playlist que criamos para “ilustrar” um pouco do que a polarização política no Brasil tem a oferecer:
https://open.spotify.com/user/ibpad/playlist/7sean8opiIgFC387AEERDR