Romper os muros da universidade e chegar aos interesses da sociedade civil é um constante desafio enfrentado pelas produções acadêmicas. Enquanto o mercado ainda permanece indisposto a usufruir da inteligência desenvolvida pela comunidade científica, alguns dos projetos desta tentam aproximar a população do conhecimento de pesquisa produzido nas Universidades. Essa é a proposta do Geist (Grupo de Pesquisa em atores, instituições, comportamento político e novas tecnologias) da pós-graduação em Ciência Política da UFPR, que, com a preocupação de tornar a narrativa interessante e compreensiva em seus relatórios, desenvolveu o projeto MEME: E-Monitor Eleitoral.
Sob o comando do professor doutor e coordenador do grupo de pesquisa, Sérgio Braga, e do cientista político e doutorando Márcio Carlomagno, a ideia é monitorar o comportamento dos candidatos durante as eleições para oferecer à sociedade análises semanais, em tempo quase real, das comunicações travadas pelos políticos com os usuários nos sites de redes sociais. Dado o contexto das eleições municipais de 2016, com a nova legislação que determina menos tempo de campanha e menor tempo de exposição em rádio e TV, além de restrições ao financiamento das campanhas, os ambientes digitais das mídias sociais tornaram-se veículos fundamentais para a construção de um diálogo entre os candidatos e a população.
Esse cenário favorece o trabalho das 14 pessoas, dentre professores e alunos de doutorado, mestrado e graduação, que estão envolvidas no projeto e coletam diariamente dados para a publicação dos relatórios. Os boletins, que são divulgados na própria página do projeto no Facebook, de forma gratuita, trazem diferentes análises: quais são os assuntos abordados pelos pré-candidatos à prefeitura de Curitiba em determinado período?; quais foram as abordagens que as páginas utilizaram para falar sobre os assuntos, a partir de uma perspectiva própria ou em ataque aos adversários?; os temas abordados fazem parte da competência municipal ou fazem referência a problemas de níveis nacionais/estaduais?; dentre muitos outros.
Além de traçar análises pautadas nos dados das próprias plataformas, como no , que oferece uma interpretação quanti e qualitativa das reações dos usuários do Facebook às páginas de candidatos à prefeitura de Curitiba, outras problemáticas do projeto utilizam diferentes métodos para tentar compreender, por exemplo, quais estratégias são utilizadas para atrair os usuários das mídias sociais – como no Boletim 7 – enquanto há o ocultamento de legendas referentes a candidatos com partidos controversos. Este fato também é estudado no , que analisa minuciosamente as hipóteses da imprensa de que alguns candidatos estariam “escondendo” seus partidos na campanha eleitoral deste ano, levantando dados de 221 candidatos das 26 capitais brasileiras.
No , a equipe põe à prova o mito de que políticos só aparecem de quatro em quatro anos – seja no ambiente on ou offline. Uma coleta de 25 mil postagens em sete páginas de candidatos à prefeitura de Curitiba no período de cinco anos e oito meses (1º de janeiro de 2012 a 31 de agosto de 2016) e posterior análise identificou que todas as páginas intensificaram as atividades no período eleitoral, mas alguns candidatos mantiveram certa coesão durante todo o período – o que revela os diferentes níveis de relacionamento dos candidatos com seu eleitorado, além de responsabilidade pública para com os cidadãos.
Já o Boletim 11 tensiona a “nova esfera pública” dos sites de redes sociais através de uma análise que percebe a correlação entre usuários e eleitores de diferentes municípios. É feita uma comparativa entre os seguidores de páginas de diferentes municípios, numa proposta que tenta identificar como os blocos político-ideológicos são formados entre os próprios internautas, além do que isso representa na relação entre candidatos e eleitores. Já são 12 boletins divulgados até o momento, que podem ser baixados na página do Facebook do projeto; é possível também fazer uma assinatura gratuita para recebê-los por e-mail.