Com uma edição flopada ou não, em números de audiência e de mercado, o Big Brother Brasil é um produto cultural de muito sucesso. As polêmicas, dilemas e confusões que acontecem no programa pautam discussões e formam posicionamentos aqui fora. Mas será que todo o hype gerado pelo BBB pode ser usado para pensar estratégias também na política? Eu acho que sim! Falando da minha área bem no estilo Túlio Gadelha, vou deixar aqui cinco insights sobre o BBB que podem nos ajudar na construção de estratégias na política e se preparar para a que promete ser a mais disputada eleição da nossa história.
1 – Onda, onda, olha a onda! (clap clap)
O efeito onda é aquela sensação, ao longo de um processo eleitoral, de que a campanha pegou positivamente, principalmente nas ruas. É aquele sentimento de que foguete não tem ré (como dizem os jovens), sabe? O que aconteceu com a Juliette no BBB 21 é um exemplo. O efeito onda veio feito aquelas de Nazaré: grande, forte e devastador. E quando o efeito vem, todo mundo sabe quem vai ganhar!

Na política e no BBB, um dos efeitos da onda é o desânimo nos adversários. Ao ver a onda formada, bate aquela  sensação de “já era” na mobilização do oponente. E quando isso acontece é porque já era mesmo. E se engana quem pensa que as pesquisas quantitativas são as únicas formas de medir esse efeito onda. A quantidade de gente na rua em uma carreata e o número de pessoas engajadas nas redes sociais, que as campanhas medem por monitoramento, são formas de observar e também ajudar campanhas a criar o efeito onda. É tipo a gente abrir o Twitter, ser inundado de pãezinhos e fechar a aba com a certeza de que o BBB neste ano vai ficar com o Arthur Aguiar, sabe?
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Quem duvidava da campeã?

2 – Partiu mutirão?
Sabe o fã que compartilha nas redes todo tipo de coisa que o ADM do participante do BBB publica? Aquele que entra no mutirão e manda a comprovação de que em 1h deu 20 mil votos para tirar o adversário no paredão? É esse tipo de “torcida” que você precisa ter na política para que sua mobilização orgânica seja grandiosa. 
Para conseguir isso, você pode usar as ferramentas que as plataformas disponibilizam. Grupos e canais de Whatsapp e Telegram são fortes aliados na mobilização, além das funcionalidades do Google. Toda vez que eu vejo um pãozinho respondendo o Chico Barney com uma frase repetida por outro, já imagino o docs da Maíra bombando de gente, assim como eu imaginava os do Carluxo em 2018. 
O importante aqui é que a identificação do público com o conteúdo faça com que tudo seja compartilhado rapidamente e de forma (quase) espontânea. Ah, Carol, mas minha campanha ainda não é super engajada… Usa sua equipe! Qualquer pessoa, paga ou não, que atue na campanha é um mobilizador em potencial e desempenha um papel importante para distribuir seu material digital, além de ser referência para conversas e debates que podem elevar o nome do candidato.
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Mutirão laaaaaaarga voto e manda a comprovação aqui!

3- Voto impresso auditável por CPF já! 

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O debate sobre o sistema de votação não está só entre aqueles que querem o fim da urna eletrônica. No BBB, há o questionamento sobre essas torcidas que se mobilizam e fazem os mutirões de votação com cada indivíduo dando milhares de votos. O Chico Barney é irônico neste post, porém, no submundo das torcidas, esse tema é debatido com muito afinco (sempre por quem tem menos gente engajada, claro). Isso lembra um certo debate sobre a validade do nosso sistema de votação e dúvidas quanto à confiabilidade da urna eletrônica? Pois é! Alô TSE, tome uma atitude! Queremos voto auditável por CPF no BBB, já.
4 – Afinal, quem ganha com a polarização?
Qual a vantagem da polarização em termos de estratégia? Bom, no BBB gera audiência, engajamento nas redes e lucro. Muito lucro! Na política… Audiência, engajamento nas redes e votos, MUITOS VOTOS! 
Em 2020, o paredão Manu x Prior bateu recorde mundial superando a marca de 1,5 bilhão de votos. A disputa foi tão acirrada que um dos lados da polarização política brasileira se dizia #TeamPrior enquanto o outro era #TeamManu. Teve gente construindo robôs para votar e monitorando as enquetes 24 horas por dia. 
Na política, a polarização também provoca debates apaixonados, tentativas de manipular a realidade e entropia. Uma consequência disso é a “novelização”, ou a “futebolização” da política. A emoção e conflito são gatilhos fortes nas redes.  Nessa hora, o debate se reduz e vira baixaria. Neste momento, as figuras que fazem parte dos dois extremos ganham enquanto quem não entra na onda é jogado para fora desses dois ciclones. Isso é muito prejudicial à democracia. 
Alguma semelhança?
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5- Minha bolha, minha vida
Tanto no BBB quanto em uma campanha, corremos o risco de nos fechar em bolhas, construir um simulacro da realidade. O problema é que a gente acha que está tudo bem, que tá fazendo tudo certo e acaba não percebendo o que acontece no nosso entorno. Só que lá fora, a realidade se impõe muitas vezes de forma muito diferente do que pensávamos. E assim não vemos os problemas e como nos aproveitamos das fragilidades dos outros.

A Lina, nossa Linn da Quebrada, é um exemplo de criação de um simulacro no BBB 22. Ela estava tão firme na intenção de se aliar às meninas do Lollipop, que não leu, dentro do jogo, as preferências do público. A cada semana que um participante do quarto ia sendo tirado, ela ia se aliando mais e mais aos que restavam.  

Já no BBB 21, as paranoias do Gil do Vigor impediram que ele formasse uma realidade extremamente otimista. A cada paredão, em vez de achar que era amado, ele entrava na paranoia, duvidava de si. Isso o ajudou a manter os pés no chão e mostrar suas vulnerabilidades, que o humanizaram e o fizeram conquistar o maior prêmio de um BBB: ser amado pelo público.
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O Gil era isso todo dia

Na campanha, quando você tem certeza que tá no caminho certo sem estar, fica difícil sair do “Lollipop” da política. A consequência é a derrota. Você cai no simulacro, esquece de olhar para fora, ver os problemas reais, ouvir o público e aí pode terminar a eleição como marolinha. Pesquisas quantitativas, grupos focais e monitoramentos de redes podem te ajudar a focar na realidade, mas é importante ter cuidado.
Aqui é super importante lembrarmos das famosas bolhas. O efeito é de um caracol dentro da casca. O Twitter é um bom exemplo disso. Aquilo ali é muito legal, admito, mas não é a vida real. Para parte do Twitter a Lina é a campeã do BBB 22 desde o início do programa… O problema é que ela já foi eliminada. 
Isso pode acontecer nos monitoramentos de redes nas eleições também. Como o Instagram e Facebook são plataformas mais fechadas, muitas ferramentas de monitoramento focam muito suas análises no que capturam no Twitter. Os resultados são excelentes na bolha. Mas, e as plataformas mais populares? Como é que fica? 
Assim, um candidato que recebe um relatório de análise de sentimento com base no Twitter pode cair numa ilusão. A bolha analisada pode ser favorável a ele, mas quando chegamos na vida real – com o “público do sofá” dos realities – ele não tem todos os votos que pensa ter. O eleitor pode pensar coisas que as ferramentas não vão analisar de forma tão clara. 
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Sai daí, Lina!

6- Hashtag e textão não decidem eleição
Pois é! Como a gente viu, às vezes acontece de um participante estar bombando nas redes e não garantir os votos necessários para permanecer no programa. Sua torcida se distrai em debates no Twitter, difamando os adversários e esquece de votar. Na política, isso também pode acontecer. Por isso é super importante para as campanhas que seus militantes tirem o título de eleitor, regularizem as pendências eleitorais e compareçam no dia da votação. O mesmo vale para você, leitora ou leitor. De que vale sua estratégia de militância se na hora H, não vai votar?

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