Evidências sobre a polarização política no Brasil

Sobre a polarização da política no artigo “Existe polarização política no Brasil? Análise das evidências em duas séries de pesquisas de opinião”, feita pelos pesquisadores Pablo Ortellado, Marcio Moretto Ribeiro e Leonardo Zeine investigam se o Brasil está, de fato, polarizado.

Para isso, eles examinam a opinião dos brasileiros sobre questões socioeconômicos e morais (o papel do Estado na economia, os direitos da população LGBTI+, autonomia sexual e reprodutiva, etc.), o seu posicionamento na escala ideológica esquerda-centro-direita e a animosidade que apresentam em relação a grupos políticos adversários.

O trabalho foi publicado na edição mais recente da Revista Opinião Pública.

Polarização politíca medida com pesquisas de opinião

A ideia de que o Brasil está polarizado aparece com frequência em discursos políticos e em materiais jornalísticos. Os próprios autores do texto ressaltam que a polarização vem sendo tomada como um pressuposto sem ser, de fato, investigada.

E a centralidade das redes sociais digitais no debate público intensifica o sentimento de polarização: a hiperparticipação de indivíduos polarizados acaba omitindo a existência de pessoas silenciosas e moderadas.

A relevância do trabalho está, portanto, em investigar a polarização no país a partir de pesquisas de opinião que representam toda a população brasileira.

Polarização política existe, mas não é generalizada

Os resultados mostram que a polarização política existe em alguma medida, mas ela não é generalizada.

Questões sobre o papel do Estado na economia e sobre corrupção não apresentam tendência de polarização política.

Em contrapartida, temas morais como divórcio e direitos da população LGBTI+ estão, de fato, polarizados. E o que chama atenção nessa polarização política é o seu componente geracional: enquanto os mais jovens estão estabelecendo consensos progressistas a respeito desses temas, os mais velhos mantêm suas opiniões conservadoras.

Polarização polética ideológica volta a crescer desde 2010

No que se refere ao posicionamento ideológico, os autores mostram que essa polarização esteve em queda entre 1990 e 2010, mas passou a crescer desde então.

Isso quer dizer que, nos últimos anos, há mais pessoas se posicionando nos extremos da escala ideológica — especialmente os mais velhos e os menos escolarizados.

Além disso, enquanto a população em geral não apresenta aversão a grupos políticos opositores, há animosidade entre os mais engajados: indivíduos mais à esquerda desgostam de quem defende o regime militar e defensores do regime militar desgostam de petistas.

Barômetro das Américas e World Values Survey

Para chegar aos resultados, Ortellado, Ribeiro e Zeine (2022) mobilizam as séries históricas de duas bases de dados: o Barômetro das Américas e o World Values Survey.

Enquanto o Barómetro das Américas é realizado pelo LAPOP (Latin American Public Opinion Project) desde 2006 e a cada dois anos, o World Values Survey foi realizado cinco vezes no Brasil: em 1991, 1997, 2006, 2014 e 2018.

Ambas as pesquisas compreendem a aplicação de questionários a amostras representativas das populações de diversos países.

Não é só o anti-petismo

Os autores comparam os seus resultados àqueles apresentados por Umberto Mignozzetti e Matias Spektor no trabalho “Brazil: when political oligarchies limit polarization but fuel populism” (que compreende um dos capítulos do livro “Democracies divided: the global challenge of political polarization”, à venda em plataformas digitais).

Mignozzetti e Spektor (2019) também encontraram um forte sentimento anti-PT ao examinarem dados de 2018, mas não encontraram forte polarização ideológica, contrariando parte dos resultados de Ortellado, Ribeiro e Zeine (2022).

REFERÊNCIAS: Polarização Política

MIGNOZZETTI, U., SPEKTOR, M. Brazil: when political oligarchies limit polarization but fuel populism. In: CAROTHERS, T., DONOHUE, A. (eds.). Democracies divided: the global challenge of political polarization. Washington: Brookings Institution Press, 2019. Disponível em: https://www.brookings.edu/book/democracies-divided/.
ORTELLADO, P., RIBEIRO, M. M., ZEINE, L. Existe polarização política no Brasil? Análise das evidências em duas séries de pesquisas de opinião. Opinião Pública, v. 28, n. 1, 2022. Disponível em: https://www.cesop.unicamp.br/por/opiniao_publica/artigo/725.

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