As pesquisas eleitorais e seus institutos favorecem candidatos?

O Prof. Wladimir Gramacho publicou um análise de 156 pesquisas eleitorais divulgadas antes das eleições de 2010 com o objetivo de investigar viés partidário nas metodologias dos institutos de pesquisa. O trabalho foi publicado na conceituada revista científica brasileira Opinião Pública: À margem das margens? A precisão das pesquisas pré-eleitorais

 

a margem das margens
Trabalho publicado em 2013

 

Pequisas eleitorais para Presidência da República e Governos estaduais

O estudo considera as pesquisas para a Presidência da República e os governos estaduais. Foram excluídas as pesquisas “boca de urna”, que tendem a ser mais precisas por causa da proximidade com o dia da eleição, e foram desconsideradas as informações sobre candidatos que não atingiram 3% dos votos totais no primeiro turno.

No estudo, o cálculo MM3 (método de análise escolhido para avaliar os surveys) aponta que os erros amostrais em mais da metade dos casos foram superiores aos informados pelos institutos. Ou seja, a maior parte das pesquisas “errou” o resultado das urnas para além do que previam errar.

 

Pesquisas eleitorais e suas divergências com os resultados

No entanto, antes de acusar os institutos de manipularem os dados ou de terem metodologias defeituosas além do aceitável, é preciso entender o que está por trás das pesquisas pré-eleitorais. O autor elenca algumas causas e outras possibilidades para a divergência de resultados:

 

O Registro eleitoral

A Lei 9.504 de 1997 obriga as pesquisas pré-eleitorais a serem registradas na Justiça Eleitoral cinco dias antes da divulgação dos resultados. Para cumprir a legislação os institutos informam uma margem de erro fictícia, já que o cálculo real só pode ser feito com precisão após o trabalho de campo. Portanto, as empresas sempre chutam um dado que é essencial para a precisão das pesquisas.

 

Distância entre a coleta e eleição

A revisão bibliográfica do autor sugere que estudos feitos mais próximos à eleição são mais precisos porque o eleitor se decidiu e tem menos chance de mudar a intenção de voto. Um dos motivos para excluir as pesquisas “boca de urna” do estudo.

 

Rotina de procedimentos

Supervisão dos entrevistadores, checagem  e elaboração dos questionários, estruturação do banco de dados e recrutamento são alguns dos fatores que podem influenciar a acurácia da pesquisa do retrato eleitoral.

 

Amostra

O tamanho da amostra pode ser decisivo para aproximar um instituto da realidade eleitoral. No artigo, os surveys analisados tinham amostras que variaram de 700 a 20.960 entrevistados.

Além dos quatro pontos elencados acima, existe ainda o grupo de fatores do contexto eleitoral. Sobre estes, é pouco provável que as empresas possam fazer algo para controlar a situação. Por exemplo, nível de indecisão eleitoral, abstenção, multipartidarismo e a desigualdade social regional influenciam a precisão das pesquisas pré-eleitorais.

 A principal divergência está no tempo

 

Após investigar o peso de cada um desses fatores, a análise aponta que principalmente “os erros dos institutos de pesquisa em 2010 podem ser explicados pela antecedência com que foram realizadas as pesquisas em relação ao dia da votação”. A conclusão é feita a partir do cálculo MM3 e de regressão linear multivariada.

Outro padrão encontrado é que existiu maior diferença entre a intenção de voto e o resultado das pesquisas pré-eleitorais quando: realizadas no 1° turno; com disputa poucos candidatos competitivos; onde existia ampla vantagem para o primeiro colocado; e em pesquisas sobre eleição de governadores.

 Os institutos enviesaram os resultados?

Também foi testada a assertividade por instituto e os resultados não permitiram, por falta de significância estatística, apontar superioridade técnica de nenhuma das empresas.
Por fim, o artigo não encontrou indícios de que nenhum partido ou conjunto de partidos, posicionados à esquerda ou à direita, tenha sido deliberadamente prejudicado ou favorecido nas pesquisas analisadas.

 

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