O artigo Defending democracy or amplifying populism? Journalistic coverage, Twitter, and users’ engagement in Bolsonaro’s Brazil, escrito pelos pesquisadores Giulia Sbaraini Fontes e Francisco Paulo Jamil Marques, examina de que maneira as principais organizações de mídia (Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo) têm tuitado sobre Jair Bolsonaro e qual é o nível de engajamento do público com essas postagens. A intenção dos autores é avaliar em que medida a cobertura jornalística pode ampliar a visibilidade de líderes populistas.

          Esses atores políticos costumam defender suas visões de mundo dividindo a população e criando “inimigos”. Há sempre “o povo” e aqueles que prejudicam “o povo”. E somente o populista tem o que é necessário para defender “o povo” e combater “os inimigos”. Além disso, esses líderes estão sempre muito atentos a estratégias de comunicação. O objetivo é estar constantemente sob os holofotes midiáticos. Portanto, a relevância do artigo está em refletir até que ponto os jornais brasileiros têm resguardado a democracia respondendo aos ataques de Jair Bolsonaro ou têm impulsionado a narrativa populista do presidente em troca de tuítes que recebem maiores níveis de audiência. Em outras palavras, Bolsonaro e as principais organizações de notícias do país podem estar se retroalimentando: o presidente ataca o jornalismo, as organizações de mídia respondem em tom negativo (porque é o tipo de conteúdo que chama atenção da audiência) e Bolsonaro reafirma a sua narrativa de que a imprensa é “inimiga”. 

          Os resultados do artigo mostram que “Bolsonaro” foi um dos termos mais citados pelos jornais investigados: 2.565 postagens (o que representa 9,8% do corpus) mencionaram o atual presidente da República. E a maioria dos termos que se destacaram nesses tweets se referem a controvérsias envolvendo os filhos do presidente. Assuntos sobre políticas públicas foram menos frequentes, com exceção da Amazônia e da reforma da previdência. Ou seja, os jornais optaram por tuitar sobre temas sensíveis – e potencialmente negativos – ao governo Bolsonaro. No que se refere ao engajamento, os resultados mostram que falar sobre o presidente desperta o interesse dos usuários: esses tweets receberam maior número de curtidas, retweets e respostas. Além disso, o engajamento foi maior em postagens que traziam palavras negativas associadas a Bolsonaro. Políticas públicas não despertaram a atenção dos usuários, com exceção dos tweets sobre a Amazônia e a reforma previdenciária.

          Para chegar a tais resultados, os autores coletaram todos os 128.096 tweets publicados pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo entre 1° de janeiro e 31 de dezembro de 2019. Em seguida, esse corpus foi submetido a uma Análise de Conteúdo lexical – estratégia metodológica que é realizada através de um software e considera a frequência e a proximidade das palavras. Os autores também coletaram o número de curtidas, retweets e respostas de cada postagem. 

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