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Você consegue imaginar uma campanha eleitoral sem redes sociais, sem um site ou um canal no Whatsapp? Pois é, nem eu! Foi-se o tempo que o santinho no papel e a caminhada pelo centro da cidade eram suficientes para ganhar uma eleição. Nós, que trabalhamos com política, nos acostumamos a ver e viver a evolução do digital nas campanhas. Muitas coisas inovadoras se perderam de lá pra cá e outras coisas caíram no gosto popular. Aqui, vamos fazer um histórico de como as estratégias digitais foram evoluindo ao longo dos últimos 20 anos de eleições no Brasil e pensar um pouco sobre o que podemos projetar para o futuro.
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2002 – Primeira eleição de Lula, a era dos sites de notícias e blogs

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Em 2002 a internet banda larga começava a se popularizar no país apesar de uma maioria de acessos ainda serem por meio de conexões discadas de provedores gratuitos. O UOL era um dos portais mais populares. Seu modelo de site completo, em que o usuário tinha acesso a notícias, entretenimento e chats era muito popular. Por isso, era um dos veículos preferidos para noticiar as atividades de campanha. A capa era disputada por qualquer candidato.
No universo das estratégias de campanha não existiam muitos meios de monitoramento para além de uma clipagem de notícias, análise de sentimentos de comentários de sites e medição de metragem dos destaques em notícias. O Zuck ainda estava entrando em Harvard e nem sonhava em criar o Face. A interação social ficava nos poucos blogs que começaram a surgir em 2000.
O que estava nascendo ou ia bombar? Em 2002, o fotolog, que caiu no gosto dos jovens nos anos subsequentes, estava nascendo. A Globo também estava trazendo o Blogger ao Brasil, o que ajudou a popularizar o gosto do brasileiro por escrever suas próprias notícias e histórias. Teve até quem se aventurou na programação… Quem é dessa época, se lembra de construir seu próprio template, incrementar sua página e brincar muito de desenvolvedor.
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2006 – Reeleição de Lula, todo mundo quer um site

A criação dos hotsites de candidatos foi a febre das eleições de 2006. Ali, a sensação era de que bastava uma página web para se ter total domínio da informação. Você produzia sua própria notícia, armazenava suas fotos, compartilhava jingle, agenda, plano de governo e outras fontes de dados sobre o candidato e sua campanha.

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O Orkut, que nasceu em 2004, era a rede social mais forte no Brasil. Nos seus murais e comunidades já era possível observar algumas ações de campanha.
O monitoramento
Acontecia com análise das repercussões das falas dos demais candidatos sobre as ações que o hotsite divulgava. Os métodos de análise no Orkut eram beeem primários. Muito “eu vi naquela comunidade” e pouca ciência de dados por trás.
O que estava nascendo ou ia bombar? 
O Facebook, que também nasceu em 2004, ganhava adesão dos gringos, mas era pouco usado no Brasil. Aqui a gente só queria saber de montar nossa body pocket e regar nossa fazendinha no Orkut. Eita! Será que nascia ali o primeiro metaverso? ? Passada… A verdade é que ninguém esperava que esta seria a grande plataforma das próximas eleições. E sabe o que ainda estava engatinhando? O YouTube! Pois é! Quando a gente baixava mp3 no torrent enquanto via Lula x Alckmin na TV, a plataforma de vídeos estava acabando de nascer na Califórnia. Já o Tumblr, o “pai dos memes” no Brasil só ia ser criado em 2007.

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2010 – A Presidenta “bolada”

O pleito de 2010 foi marcado pela eleição da primeira mulher presidenta no Brasil. A campanha daquele ano ainda reverberava no Orkut e tinha presença no Facebook. Naquele ano, o Facebook cresceu 258% no Brasil e as eleições tiveram grande importância nisso. Seguir os perfis dos candidatos no Twitter era uma forma de receber notícias em primeira mão. Tudo que rolava no blog ou no site, ia pra lá. Político que não fugia do debate, tinha que ter presença no Twitter. E com isso começaram a aparecer as primeiras denúncias de criação de perfis falsos para disseminar notícias, criar páginas e blogs para falar bem e defender candidatos. A “turma da zoeira” também entrou na política. Com isso, começamos a ver os primeiros perfis satíricos no Twitter. A Dilma Bolada nascia naquele contexto reinando absoluta na eleição e nos anos subsequentes de mandato da presidenta.
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O monitoramento
O monitoramento do Twitter era frenético! Começavam a nascer aí ferramentas automatizadas para análise de sentimento. A campanha da Dilma tinha o “Mundo da Dilma”, em que era possível acompanhar 24 horas tudo que se falava sobre a candidata e seus concorrentes na plataforma. Os relatórios, cheios de análise de sentimento, eram tudo que qualquer analista político precisava para entender se sua estratégia estava indo bem.
O que estava nascendo ou ia bombar? 
Em outro campo, crescia o Snapchat, plataforma de postagem de fotos e vídeos com duração curta, no máximo 24h, que viria a dar origem aos Stories do Instagram. A rede social de fotos também nasceu em 2010. Era também o primeiro ano do Whatsapp com abrangência no país, mas não tivemos notícias de ações políticas por ali. O SMS, no entanto, foi muito usado.

2014 – Dilma reeleita, a eleição do feice e dos memes!

Os memes vieram com força, principalmente para tentar ridicularizar ações e falas de candidatos, além de usar situações de outros memes no contexto da eleição.
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O monitoramento
Neste contexto, as empresas de tecnologia vendiam soluções de análise de dados de posts, principalmente no Facebook. Começava o mercado da big data, todo mundo queria vender uma solução, um monitoramento por localização e coisa e tal, mas no fim das contas, pouco era entregue. O domínio da informação ficou para as plataformas. As APIS cada vez mais fechadas do Instagram e do Facebook dificultavam o trabalho, mas a análise de sentimento, agora de acordo com informações públicas do Facebook, incrementavam os relatórios. As hashtags e principais termos no Twitter também eram alvo de forte monitoramento, principalmente com os chamados “tuitaços”, quando a mobilização dos eleitores se concentrava em postar a # do dia para que ela fosse destacada na rede.

O que estava nascendo ou ia bombar? 
Com essa onda de popularização dos smartphones, o Whatsapp teve mais destaque. Um vídeo do então candidato Aécio Neves agradecendo os votos que teve circulou após o primeiro turno como forma de disseminar a popularidade do candidato. Era algo novo e teve muita repercussão.

2018 – Bolsonaro e as tias do Zap

“A eleição de 2018 foi a do zap.” Você já deve ter ouvido alguém falar isso por aí. Isso porque os aplicativos de disparo de mensagem foram a principal arma de Jair Bolsonaro, presidente eleito, para propagar seus conteúdos de campanha.
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Com uma estética que muita gente chama de “tosca”, mas que na verdade é espontânea, sem muita elaboração ou cara de conteúdo de agência de propaganda, Bolsonaro chegou ao telefone celular de todo o país em fotos, montagens e memes que trouxeram identificação para o povo. Por trás do homem simples, que batia fotos ruins e mandava para os grupos, assim como eu ou você podemos fazer, sua campanha na verdade havia entendido que a popularização do smartphone mudou a comunicação. E isso mudou o Brasil.

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Além dessa identificação direta com o eleitor, muita desinformação foi compartilhada no Whatsapp. O Twitter manteve sua força como rede opinativa em que os eleitores debatem mais que os candidatos. O Instagram, com a ferramenta de Stories consolidada, teve força também para mostrar o dia a dia dos candidatos. A sensação de acompanhar “ao vivo” trouxe proximidade. Era possível abrir a plataforma, ver onde o candidato estava e descobrir que era na esquina de casa.
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Monitoramento
O mercado de disparo de mensagens estava a todo vapor. A maturidade do brasileiro, que já convivia com redes sociais há mais de uma década, e as regras mais restritas de compartilhamento de dados, atrapalhou um pouco o trabalho de quem precisava trabalhar com uma amostragem mais relevante. Isso aconteceu tanto no Face, quanto no Insta. Por outro lado, as ferramentas incrementaram muito os seus próprios insights. Começaram a nascer as estratégias de monitoramento no Whatsapp e o aprofundamento de análises qualitativas de memes estava mais aprofundada.

O que estava nascendo ou ia bombar? 

A essa altura, eu já tinha me cadastrado em 78563948 plataformas que as pessoas me garantiam que iam bombar, mas flopavam. E se em 2019 qualquer amigo meu me dissesse que eu precisava abrir um negócio chamado Tik Tok e ficar ligada no que rolava por lá, eu não ia acreditar! Mentira! Meus amigos Bruno e Fefa me alertaram e deu bom 🙂
A verdade é que a plataforma cresceu e vem ganhando público, assim como o Telegram. E de olho nisso, o Instagram criou o Reels, que é uma cópia (malfeita) legal do Tik Tok e que, sem dúvida, vai ser super importante nesta eleição.

2022 – O próximo presidente será tiktoker?

De 2018 para cá as redes sociais foram tomadas por dancinhas, desafios e trends principalmente com o crescimento do Tik Tok. A rede de vídeos curtos chegou pra ser uma forte concorrente do Instagram, que dominava as atenções dos produtores de conteúdo.
A facilidade na produção e a disponibilidade de ferramentas de fácil uso para edição dos vídeos criou um público fiel na rede. Os políticos, claro, já estão de olho nessa parcela do eleitorado.
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Apesar de ser considerada uma rede adolescente, os números mostram que não é bem assim. São 90 milhões de usuários só no Brasil e 1 bilhão no mundo. O público 18+ representa 89% da rede e a base de 35+ é a que mais cresce. Fica a aposta para a plataforma das dancinhas, com a lembrança de que Twitter, Instagram e Facebook ainda são redes importantes e que dão acesso a uma série de dados analíticos que podem servir para melhorar o trabalho.
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Dados & Mapas – Identifique regiões de eleitores leais utilizando bases geolocalizadas
Pesquisas Eleitorais – Para tomar decisões corretas utilizando pesquisas de opinião
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