“Imagine um filme de guerra. O clima tenso e estão todos em volta de um grande mapa escolhendo onde colocar as tropas, vantagens e desvantagens do terreno. Agora, se a gente pensar em uma campanha, que também é uma disputa, podemos trocar os generais pelo coordenador de campanha e a equipe de pesquisa”, exemplifica o pesquisador e cientista político Ricardo Gonçalves.
Toda ação política e todo ator político – eleitor ou candidato – está em um ponto do espaço e do tempo. Essa localização influencia quem a pessoa é e como ela se comporta. No caso do contexto de campanha, portanto, influencia o voto.
Existem duas explicações comuns para esta influência espacial e temporal. A primeira é que o espaço concentra grupos parecidos. Então, em um município, por exemplo, você consegue identificar quais são os bairros de renda alta e baixa. Esta realidade gera padrões de comportamento diferentes.
A outra explicação é que pessoas interagem em locais onde residem ou costumam passar. Existe uma interdependência: os fluxos de pessoas e informações caminham juntos. “Você vai despretensiosamente a uma padaria e ali encontra pessoas conversando sobre os candidatos. Naquele momento, você mede a opinião dos que estão ao seu redor. A literatura aponta que você não quer destoar da sua vizinhança ou dos seus amigos e isso acaba gerando um padrão espacial de votos”, aponta o Gonçalves.

Estudo de caso

Um artigo do mestre pela Unicamp Marco Antonio Faganello é um exemplo da aplicação destes conceitos. No trabalho “O Voto na Bancada da Bala: Estudo de geografia eleitoral na cidade de São Paulo”, Faganello investiga influências espaciais na decisão de voto.
Ao olhar para os votos de Cel. Camilo, Conte Lopes e Major Olímpio, o autor identifica que a maior quantidade de votos veio de uma região perto de um complexo de instituição da PM, chamado Invernada da Polícia Militar, no bairro do Tucuruvi. A hipótese é de que os moradores da região têm ligações pessoais com o tema militar, seja por serem policiais, parentes ou amigos. Não por coincidência as bases eleitorais da campanha ficavam estrategicamente próximos ao Tucuruvi.
Outro desdobramento de hipótese é que os moradores daquela região enxergariam vantagens em eleger candidatos ligados a uma instituição tão presente no bairro. O que aponta que parte significativa do voto nesses candidatos é movida por interesse corporativo. Polícia vota em polícia.
Reforçando a importância da proximidade acima de outros fatores. Nos casos analisados, a renda, por exemplo, não foi um preditor do voto nos candidatos.
O estudo também aponta como esta influência se expande a depender do caso desejado, prefeito ou vereador. O que ajuda a focar a campanha em boca a boca, características locais ou tentar uma abordagem mais abrangente.
O debate deste artigo e do geovoto com o pesquisador Ricardo Gonçalvez fazem parte de uma aula do IBPAD, mediada pelo professor Antônio Caldas, exclusiva para os alunos da formação eleitoral. Para ter acesso ao conteúdo completo é preciso fazer parte da lista de alunos do Instituto. Já faz parte e quer receber a aula completa? Envie um e-mail para contato@ibpad.com.br

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