O comportamento político e eleitoral é um campo de pesquisa ligado à Ciência Política. Trabalhos sobre comportamento político se debruçam sobre crenças e atitudes políticas eleitorais e não-eleitorais.

Por que as pessoas participam? Por que algumas pessoas se interessam mais por política? Por que as pessoas votam? Por que as pessoas se identificam com uma determinada ideologia?

Essas são algumas das perguntas que os estudos sobre comportamento político procuram responder.

Já os trabalhos que focam no comportamento eleitoral tentam compreender a decisão de voto dos eleitores — o que faz com que as pessoas escolham um partido ou um candidato na hora de votar?

A maior parte desses estudos utiliza metodologias quantitativas e analisa surveys aplicados a amostras representativas de uma determinada população.

Desde que a corrente comportamentalista se consolidou como área de conhecimento da Ciência Política (em meados da década de 1960), três perspectivas teóricas se destacaram: a teoria psicossocial, a teoria sociológica e a teoria da escolha racional.

Teoria Psicossocial do comportamento político

De acordo com a teoria psicossocial, o comportamento político e eleitoral está fundamentado na personalidade e nas motivações psicológicas dos indivíduos.

E cada indivíduo possui um sistema de crenças que se consolida ao longo do seu processo de socialização. Ou seja, o indivíduo é a unidade de análise.

E os contextos sociais importam na medida em que influenciam no processo de formação psicológica dos indivíduos.

Origem em “The american voter”

A corrente psicossocial foi elaborada por um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA. Em 1960, Angus Campbell, Philip E. Converse, Warren E. Miller e Donald E. Stokes publicaram uma das obras que fundamentam a teoria, “The american voter”.

Tolerância política no Brasil

Muitos trabalhos brasileiros que investigam comportamento político e eleitoral estão fundamentados na teoria psicossocial, já que foram os pesquisadores de Michigan que propuseram olhar para o indivíduo como unidade de análise.

E a maior parte das pesquisas desse campo de estudos analisa entrevistas aplicadas a indivíduos que representam uma determinada população.

Por exemplo, no artigo Tolerância política no Brasil, Ednaldo Ribeiro e Mario Fuks investigam quais são os grupos menos tolerados no Brasil e quais são as características demográficas e atitudinais dos indivíduos mais intolerantes.

Através de uma pesquisa de opinião (sendo aplicada a indivíduos que representam toda uma população), os autores mostram que indivíduos que possuem maior interesse por política tendem a ser mais tolerantes.

O trabalho foi publicado em 2019 na Revista Opinião Pública.

Teoria sociológica do comportamento político

A corrente sociológica entende que o comportamento político e eleitoral das pessoas é explicado a partir de elementos macrossociais.

Ou seja, são as experiências coletivas (relacionadas à classe social, ao ambiente de trabalho, à denominação religiosa, etc.) que moldam os comportamentos dos indivíduos.

De acordo com essa perspectiva, pessoas que integram os mesmos grupos sociais tendem a ter comportamentos políticos semelhantes.

Origem em “Voting: A study of opinion formation in a presidential campaign”

Uma das obras basilares para a teoria sociológica do voto é “Voting: A study of opinion formation in a presidential campaign”, de Bernard Berelson, Paul Lazarsfeld e William McPhee, publicada em 1954.

De acordo com esses autores, importando não é a decisão individual do voto, mas as variações que ocorrem em diferentes grupos sociais.

Raízes sociais e ideológicas do Lulismo

No artigo “Raízes sociais e ideológicas do Lulismo”, o pesquisador André Singer defende a tese de que a classe social do eleitor interfere na escolha do Presidente da República.

Para o autor, os eleitores de renda mais baixa não votaram em Lula nas eleições de 1989, 1994, 1998 e 2002 por possuírem opiniões políticas mais conservadoras.

Entretanto, o Programa Bolsa Família, o aumento do salário mínimo e a expansão do crédito pessoal — medidas tomadas por Lula em seu primeiro mandato — fizeram com que esses eleitores mais pobres votassem no candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) em 2006. O artigo foi publicado em 2009 na Revista Novos Estudos.

Teoria da escolha racional do comportamento político

De acordo com a teoria da escolha racional, os comportamentos políticos e eleitorais das pessoas ocorrem através de cálculos racionais.

O Homus psicologicus (teoria psicossocial) e o homus sociologicus (teoria sociológica) dão lugar ao Homus economicus, que orienta as suas ações em busca de ganhos financeiros.

Nesse caso, quando a economia vai bem, os governantes ganham mais votos; quando a economia vai mal, a oposição se beneficia.

Origem em “Social Choice and Individual Values”

A obra que fundamenta essa corrente teórica é “Social Choice and Individual Values”, de Kenneth Arrow, publicada em 1951.

Esse autor afirma que os indivíduos somente se dispõem a votar quando os resultados eleitorais compensam os custos de se envolver no processo eleitoral.

A cabeça do eleitor

No livro “A cabeça do eleitor”, Alberto Carlos Almeida defende a tese de que a decisão de voto dos brasileiros está relacionada à maneira como o eleitor avalia o governo: governantes bem avaliados tendem a se reeleger ou a eleger seus sucessores; quando são mal avaliados, tendem a perder as eleições.

Ou seja, o eleitor brasileiro atua como um juiz que recompensa ou pune seus governantes de acordo com os ganhos que obteve ao longo dos anos de governo.

REFERÊNCIA

FIGUEIREDO, M. A decisão do voto. São Paulo: Editora Sumaré: ANPOCS, 1991.

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