Congruências entre os deputados federais e o eleitorado brasileiro
No artigo “Quem é mais bem representado? Congruência entre parlamentares e segmentos do eleitorado brasileiro”, as pesquisadoras Tábata Christie Freitas Moreira e Ana Paula Karruz investigam em que medida as preferências dos Deputados Federais são semelhantes às preferências dos eleitores.
A princípio, elas examinam se há segmentos do eleitorado mais bem representados, considerando grupos de renda, escolaridade, sexo, raça, idade e religião.
Acima de tudo, o artigo — que foi publicado na Revista Opinião Pública analisa principalmente opiniões relacionadas a costumes, meio ambiente, políticas sociais, economia e ideologia.
Não há democracia sem responsividade
O texto é importante principalmente porque trata de um dos fundamentos do sistema democrático: a resposta do governo às preferências dos cidadãos. Ou seja, a democracia deduz que representantes transformem os desejos dos eleitores em políticas públicas.
Nesse sentido, a atual Câmara dos Deputados tem um perfil socioeconômico muito distante da população brasileira: 75% são brancos, 85% são homens e 81% têm Ensino Superior Completo.
E o texto de Moreira e Karruz (2021) discute essas diferenças de forma ainda mais aprofundada ao analisar as opiniões de representantes e representados ao longo dos anos.
Cidadãos escolarizados são melhor representados pelos seus deputados
Contudo, o que mais chama atenção no artigo é a proximidade entre as preferências dos Deputados Federais e dos eleitores que chegaram ao Ensino Superior.
Ou seja, cidadãos socialmente favorecidos tendem a ser melhor representados na Câmara dos Deputados.
E, surpreendentemente, a congruência não varia de acordo com o gênero do eleitorado e tende a ser maior para os eleitores mais jovens (mesmo que a distribuição etária dos representantes esteja concentrada nas faixas de maior idade).
Os Deputados Federais se posicionam mais à esquerda do que os eleitores brasileiros
No geral, os parlamentares se posicionam mais à esquerda e têm opiniões mais progressistas do que o eleitorado no que se refere à descriminalização do aborto e ao casamento de homossexuais.
Contudo, ao mesmo tempo em que se declaram mais à direita no espectro ideológico, os eleitores de renda mais baixa favorecem a presença do Estado na economia — indicando uma falta de compreensão a respeito da ideologia.
O meio ambiente não é pauta prioritária para os Deputados Federais e nem para a população
Nenhum parlamentar entrevistado selecionou o meio ambiente como área prioritária.
E, nesse ponto, evangélicos, pretos e pardos se aproximam mais da opinião dos representantes – somente 0,5% de pretos e pardos e 0,3% dos evangélicos apontaram o meio ambiente como área que deve receber mais recursos públicos.
Mas esse número não sobe muito em outros segmentos do eleitorado: ficou em 1,5% para respondentes brancos e em 1,0% para respondentes católicos.
Barômetro das Américas, Latinobarômetro e PELA
Para analisar a opinião dos eleitores, as autoras utilizaram dois bancos de dados sob o mesmo ponto de vista: o Barômetro das Américas dos anos de 2008, 2010, 2012 e 2014 e o Latinobarômetro dos anos de 2004, 2007, 2008 e 2009
E para analisar as opiniões dos Deputados Federais, elas utilizaram os dados do Projeto Elite Parlamentar Latinoamericana (PELA) de 2004, 2010 e 2014
A pesquisa considerou as respostas de representantes e representados a 11 questões:
- 1) O aborto deve ser descriminalizado?
2) Casais homoafetivos devem ter o direito de se casar?
3) O meio ambiente deve receber mais orçamento do Estado?
4) O Estado deve assegurar o bem-estar das pessoas?
5) O Estado deve ser responsável por serviços de saúde?
6) O Estado deve ser responsável por pensões e aposentadorias?
7) O Estado deve reduzir a desigualdade de renda?
8) O Estado deve ser responsável por criar empregos?
9) O Estado deve ser dono das empresas mais importantes?
10) O mercado tem o dever de regular a economia?
11) Qual é o seu posicionamento ideológico na escala esquerda-centro-direita?
As diferenças entre representantes e representados são ainda maiores quando comparadas suas características socioeconômicas
Por fim, as desigualdades de representatividade podem ser estudadas também a partir da comparação entre as características socioeconômicas de representantes e representados.
E é isso o que o pesquisador Augusto Neftali Corte de Oliveira faz no artigo “Desigualdades da política no Brasil: representação descritiva na eleição de 2014 para a Câmara dos Deputados”.
Analisando o perfil de Deputados Federais eleitos em 2014 e dos dados do Censo de 2010, o autor expõe a sub-representatividade de mulheres, pretos e pardos e cidadãos menos escolarizados e de menor renda.
REFERÊNCIAS
MOREIRA, T. C. F., KARRUZ, A. P. Quem é mais bem representado? Congruência entre parlamentares e segmentos do eleitorado brasileiro. Opinião Pública, v. 27, n. 3, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op/article/view/8668739.
OLIVEIRA, A. N. C. Desigualdades da política no Brasil: representação descritiva na eleição de 2014 para a Câmara dos Deputados. Mediações – Revista de Ciências Sociais, v. 20, n. 2, 2015. Disponível em:
https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/22855.
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