Os evangélicos e a democracia
O artigo “Religião e democracia em nível local: os valores democráticos dos evangélicos paulistanos”, escrito por Andressa Kniess e Deivison Santos, investiga se o pertencimento a denominações evangélicas afeta a adesão dos fiéis paulistanos a valores como tolerância, respeito às instituições e preferência pela democracia em detrimento de outras formas de governo. O trabalho foi publicado na Revista Teoria & Pesquisa.
O crescimento dos evangélicos no Brasil
A relevância do texto está em investigar valores políticos de uma camada social em amplo crescimento no Brasil.
E esse não é o único elemento que justifica a ampliação dos estudos a respeito dessas agremiações religiosas. Os evangélicos se destacam também por uma organização política que vem angariando cada vez mais espaço nos governos municipais, estaduais e federal.
E mesmo que o artigo apresente dados sobre a cidade de São Paulo, os resultados podem oferecer indícios do que ocorre em outras regiões do país.
Evangélicos paulistanos tendem a ter opiniões menos democráticas
Os resultados mostram que os evangélicos tendem a ter opiniões menos democráticas no que se refere a três valores: a aceitação de indivíduos com opiniões políticas e morais opostas, a frequência de diálogo com pessoas que possuem opiniões políticas divergentes e a concordância de que a democracia é sempre a melhor forma de governo.
As variáveis que mais interferem na adesão à democracia são escolaridade e renda
Mas quando a religião é comparada a outras variáveis por meio de uma regressão linear múltipla (método estatístico que verifica a associação entre uma variável dependente e múltiplas variáveis independentes), constata-se que o que mais explica a adesão a valores democráticos é a escolaridade e a renda das pessoas.
Ou seja, indivíduos com Ensino Superior e pertencentes a camadas sociais mais altas têm forte tendência a dispor de opiniões mais democráticas.
Índice de Democracia Local
O artigo analisou resultados do Índice de Democracia Local, um survey elaborado e aplicado pelo Instituto Sivis a uma amostra representativa da população eleitoral de São Paulo. De fato, os autores examinaram as respostas das seguintes questões:
1) Quão aceitável é para o senhor que indivíduos possuam e expressem opiniões políticas e morais opostas das suas?
2) Afinal, com qual frequência o senhor dialoga com pessoas com posições políticas divergentes das suas?
3) No contexto de um debate político, quão disposto o senhor estaria a mudar de opinião caso a pessoa com quem esteja debatendo apresente argumentos bem fundamentados?
4) Em que grau o senhor concorda com a seguinte frase: “É importante obedecer às leis e ao governo sem a independência de os políticos no poder serem aqueles nos quais eu votei ou não”?
5) Em que grau o senhor concorda com a seguinte frase: “A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo. Isto é, seja qual for das circunstâncias”?
A religião influencia também na decisão do voto do eleitor?
O texto aqui apresentado investiga a associação entre opiniões políticas e agremiações evangélicas em um contexto não-eleitoral.
Mas é importante olhar também para as pesquisas que analisam em que medida ser evangélico afeta a decisão de voto.
Um dos textos mais recentes sobre o tema é o artigo “O hábito de frequentar cultos como mecanismo de mobilização eleitoral: o voto evangélico em Bolsonaro em 2018”, escrito por Matheus Gomes Mendonça Ferreira e Mario Fuks.
Por fim, os autores mostram que, além de Bolsonaro ter obtido maior desempenho eleitoral entre os evangélicos, a participação frequente em cultos também direcionou o voto dos fiéis para o atual presidente.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, M. G. M., FUKS, M. O hábito de frequentar cultos como mecanismo de mobilização eleitoral: o voto evangélico em Bolsonaro em 2018. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 34, 2021. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbcpol/a/fWvcZ49qvhjrpB9dNBK6sxB/?lang=pt&format=html.
KNIESS, A. B., SANTOS, D. H. de F. Religião e democracia em nível local: os valores democráticos dos evangélicos paulistanos. Teoria & Pesquisa, v. 29, n. 1, 2020. Disponível em: https://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/view/820.
---Para quem quer se aprofundar mais no uso de dados na política, o Ibpad lançou uma Formação completa com quatro cursos incríveis, confira:
Dados & Mapas – Identifique regiões de eleitores leais utilizando bases geolocalizadas
Pesquisas Eleitorais – Para tomar decisões corretas utilizando pesquisas de opinião
Pesquisa Qualitativa – Para entender como os eleitores pensam utilizando grupos focais
Inteligência de Dados em Mídias Sociais – Para quem quer ser relevante nas redes monitorando e analisando dados online