Você sabe quanto dinheiro é necessário para disputar uma vaga à Câmara dos Deputados? Será que vale mais concorrer à Assembléia Legislativa ou a Senador?
Entender os custos reais de uma campanha vitoriosa é o primeiro passo para um bom planejamento eleitoral. Quem conhece o custo mínimo e o custo máximo de uma campanha tem capacidade de decidir se está apto a entrar na disputa e, acima de tudo, a melhor forma de aplicar os recursos que tem para se eleger.
Uma pesquisa inédita feita pelo IBPAD, que acaba de ser publicada, mostra que para se eleger para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, por exemplo, teve quem gastasse apenas R$ 924. Mas também houve quem precisou desembolsar R$ 1,1 milhão pela mesma vaga. Então, qual o segredo dos campeões?
“Para alcançar o sucesso em uma eleição, é fundamental compreender a realidade, a dinâmica do eleitorado e como conquistá-lo. Há algumas ferramentas que facilitam esse caminho”, explica Max Stabile. “Sabendo quanto custa uma campanha vitoriosa e quais são essas ferramentas, o candidato consegue fazer um planejamento adequado, com gastos direcionados a estratégias que podem melhorar o seu desempenho nas urnas”.
Qual o cenário do financiamento público eleitoral no Brasil?
A estrategista de campanhas e pesquisadora em Democracia Digital, Maria Carolina Lopes, lembra que o financiamento público eleitoral mudou esse cenário no Brasil. Ela aponta que esses recursos estão nas mãos dos partidos, que os dividem entre seus candidatos. Além disso, partidos com mais representatividade, têm mais recursos.
“O mais importante é saber compor a sua equipe com pessoas preparadas para transmitir a sua mensagem política usando a linguagem da população. Uma campanha de R$ 50 mil que souber investir em bons produtores de conteúdo, marketing, monitoramento e pesquisas, por exemplo, pode se sair melhor que uma campanha de R$ 2 milhões que não investiu os recursos da forma correta”, explica.
Qual o custo médio para ganhar uma eleição?
A pesquisa inédita do IBPAD, elaborado com informações da base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referentes às prestações de contas dos candidatos que disputaram a eleição de 2018, mostra o custo médio das campanhas vitoriosas ao Governo, Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa. E dá boas pistas sobre os desafios financeiros nas disputas aos diferentes cargos em cada Estado.
De acordo com a pesquisa do IBPAD, quem pretende disputar um cargo para as Assembleias Legislativas, por exemplo, precisará desembolsar em média R$ 373 mil. Esse foi o custo médio de uma campanha vitoriosa em 2018, em valores corrigidos pela inflação acumulada no período. Mas esse gasto pode variar muito dependendo da região ou Estado em que o concorrente está, se vai disputar a reeleição ou não. O estudo mostra que no Espírito Santo, onde houve a menor média de gastos de um vencedor, o investimento foi de R$ 154 mil. A disputa pela mesma vaga em São Paulo, onde houve a maior média, custou quase 3,5 vezes a mais, um investimento de R$ 537 mil para quem se elegeu.
Já quem sonha com uma das 513 vagas da Câmara dos Deputados será necessário gastar em média R$ 1,3 milhão. Mas quando fazemos a comparação por Estados, novamente há variações. Quem conquistou uma das cadeiras da bancada do Rio de Janeiro, o Estado com a menor média de gastos, investiu R$ 914 mil. Mas para ser dono de um dos mandatos de deputado federal por Goiás, o Estado com a maior média, o investimento foi quase duas vezes maior, de R$ 1,6 milhão.
Candidatos à reeleição gastam menos?
Outro dado interessante da pesquisa: nem sempre concorrer à reeleição significa gastar menos dinheiro. Em alguns estados, a diferença de gastos para vencer entre um concorrente que já ocupava uma das 513 vagas da Câmara dos Deputados e um candidato que não tinha mandato foi enorme. No Amazonas, por exemplo, quem se reelegeu deputado federal gastou em média R$ 2,1 milhões, enquanto quem não tinha mandato investiu em média R$ 831 mil, ou seja, um terço do valor de quem já era dono de uma cadeira no Congresso.
“É claro que cada campanha tem um custo, um perfil e depende de vários fatores como, por exemplo, o nível de conhecimento e desgaste do candidato pelo eleitorado, a região onde ele está, mas o estudo ajuda a entender o tamanho do investimento financeiro necessário para quem deseja entrar nessa disputa”, explica Max Stabile, diretor do IBPAD. “E o ideal é que o candidato saiba a melhor forma de usar os recursos que tem para obter o resultado desejado que é se eleger”.
Quais foram os maiores gastos nas eleições?
A pesquisa também detalha como foram gastos os recursos. As informações dão um panorama interessante dos investimentos: a produção de rádio e televisão é o que consome o maior percentual de recursos das campanhas ao Governo (29,8%) e do Senado (22,09%). Mas quando olhamos para as campanhas à Câmara e à Assembleia Legislativa, o maior de volume de recursos é colocado em publicidade por material impresso: 22,09% e 21,56%, respectivamente.
Na era da internet, o estudo revela que os concorrentes aos diferentes cargos ainda investem menos de 5% dos recursos totais nessa área: candidatos ao governo usam em média 3,18% com impulsionamento de conteúdos na web. Concorrentes ao Senado, 3,18%, à Câmara, 2,10% e à Assembleia Legislativa, 1,95%. Tudo indica que os investimentos em campanhas digitais devem subir, assim como os investimentos em pesquisas, que começam a ser vistas como ferramentas importantes para uma campanha mais assertiva.
“O estudo traz dados relevantes que contribuem para a compreensão dos desafios financeiros de uma campanha eleitoral em cada Estado. Uma coisa é certa: quanto maior a profissionalização das campanhas, maior a chance de obter bons resultados e fazer valer o investimento”, conclui Max Stabile.