Fazer pesquisa na internet é sempre um desafio. Quando o objeto de pesquisa é praticamente intrínseco às características de volatilidade, descentralização e (re)produção em massa, o trabalho fica ainda mais difícil. Para enfrentar esse obstáculo, o grupo de pesquisa coLAB da Universidade Federal Fluminense, em parceria com pesquisadores do grupo Labic da Universidade Federal do Espírito Santo, tem trabalhado exaustivamente para desenvolver métodos científicos e abordagens metodológicas rigorosas para responder à pergunta: como pesquisar memes?
livro-monitoramento-e-pesquisa-em-midias-sociais-320px No capítulo “Monitorando memes em mídias sociais”, presente no nosso recém-lançado livro, “Monitoramento e Pesquisa em Mídias Sociais: metodologias, aplicações e inovações”, os pesquisadores Viktor Chagas e Janderon Toth apresentam um panorama do trabalho que tem sido desenvolvido na academia para dar conta da pesquisa com memes. O capítulo apresenta a justificativa sócio-político-cultural para o desenvolvimento de pesquisa com memes, introduz alguns objetivos comuns para o estudo, discute a importância do (e como fazer o) recorte da pesquisa e disponibiliza algumas abordagens metodológicas, técnicas de coleta e mineração de dados que eles têm utilizado para realizar o trabalho.

“A produção de sentido operada por eles [memes] explicita eventuais flutuações da opinião pública a respeito de um dado tema. Em resumo, se um determinado tipo de conteúdo faz sucesso e viraliza no ambiente das mídias sociais, chances há de que ele incuta uma certa percepção de um indivíduo ou um grupo de indivíduos sobre a realidade social, apreensível somente pelo pesquisador atento à poli expressividade e à polissemia dos memes.”

O texto ainda se preocupa com algumas premissas anteriores à pesquisa, contextualizando historicamente como tem se desenvolvido esse tipo de pesquisa e apresentando propostas de conceitualização do objeto estudado, admitindo que “é difícil reconhecer o limite entre o que é e o que não é um meme entre os conteúdos que circulam pelas mídias sociais”. No entanto, mostra que é possível superar as limitações semânticas e pesquisar memes, sendo necessário (apenas) um rigor metodológico por parte do pesquisador para que suas análises sejam feitas de forma responsável e coerente. Para isso, criar categorias de gênero  são um passo importante, tendo comumente sido utilizado para esse tipo de pesquisa a classificação por formato (memes imagéticos, textuais, sonoros e audiovisuais) e categorias nativas (image macros, exploitables, look-alikes, selfies, snowclones, etc.). Chagas e Toth, entretanto, sugerem uma categorização dos gêneros de memes mais específica:
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Os autores chamam a atenção para quais motivos levaram (ou levariam) à pesquisa: A linguagem dos memes?; A economia dos criadores e compartilhadores de memes?; As motivações e efeitos de seus influenciadores?; As relações de poder?; A cultura dos fãs?; A produção autoral?; Os processos de ressignificação por que passam as mensagens?; As mudanças sociais que causam? O objetivo bem definido pautará importantes decisões metodológicas, como o recorte de pesquisa – por tema (evento digital, autoria), relacional (nós, conexões), por espaço (virtual settlement e virtual placement), por tempo (externo e interno). Essa é uma da problemática abordada pelos autores no capítulo, que continuamente apresenta as dificuldades e discute como eles têm trabalhado cada desafio.
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Por fim, vale mencionar que diversas ferramentas (em sua maioria, gratuitas) são apresentadas como aparato metodológico para pesquisa – o que pode ser uma mina de ouro para quem tem interesse em conhecer novas ferramentas para a análise de mídias sociais. Os métodos de visualização de dados e análise tanto quali quanto quantitativa também são discutidos, apresentando um mapa descritivo para a atuação de pesquisadores em interesse. Este, que deve desde início ter consciência de que trabalhar com pesquisa e monitoramento em mídias sociais significa estar “sujeito às regras definidas pelos gestores das plataformas, que podem, inclusive, alterar parâmetros importantes mesmo para uma coleta continuada já em curso”. Entretanto, os benefícios e a riqueza desse tipo de pesquisa podem ser valiosos para quem deseja compreender uma das diversas particularidades da sociabilidade em rede e pode utilizar isso a favor de compreensões sociais, culturais, políticas ou mercadológicas.

“A pesquisa com memes ocupa, portanto, um segmento de ações estratégicas e de inteligência, que possibilitam o desenvolvimento de campanhas de marketing, produção de narrativas transmídia ou experimentação com alternative story forms (ASFs), pesquisas de opinião e muito mais. Conhecer os memes que circulam a respeito de um determinado produto de uma das marcas de sua empresa ou de um candidato para o qual você presta serviço é, em grande medida, conhecer de forma mais apurada os modos de comunicação de suas audiências e diagnosticar mais detalhadamente o comportamento de comunidades de fãs em seu entorno, norteando, a partir daí, ações estratégicas e corporativas.”

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